segunda-feira, 7 de março de 2016
O Impulso
Oi pessoal! Estão gostando da história até aqui? Espero que sim! Estou dando uma passadinha pra avisar que agora as coisas começam a ficar mais emocionantes. Ainda terá muita conversa durante alguns capítulos, período que os personagens precisam se conhecer, e obviamente a parte da ação só vem depois do começo da aventura, então até lá desejo dar um bom entretenimento para vocês. Divirtam-se!
Cap. 6
O Impulso
Amanheceu há quase quatro horas. Acácia está ocupada, varrendo as folhas sobre as escadas do templo de Preetish e Manisha. Faz um clima agradável, com muito vento e luz. Quando ela para e toma fôlego, suspirando pensativa ao olhar o céu, seus cabelos flutuam na frente do rosto. Aborrecida, a garota os afasta a tempo de ver um ponto loiro se aproximar correndo na sua direção. Ele acena com vigor e sorrindo bastante.
- ACÁCIA-CHAN! – Yukine começa a subir os degraus e institivamente ela põe a vassoura na frente do corpo – Bom dia!
- Bom-Bom dia. – gagueja corada – O que faz aqui?
- Ah, eu vim trazer isto! – a regalia tira da bolsa a tiracolo um caderno e um estojo – Eu me senti mal pelo que aconteceu, então pensei em te dar um presente.
- Oh... – a moça o nota envergonhado e resolve aceitar os seus presentes, vendo as canetas coloridas e outros equipamentos de desenho – Obrigada... Mas não precisava.
- Bom, eu quis te dar alguma coisa de qualquer forma. É só que eu percebi como você gostaria de sair mais, e se não dá pelo menos pode se ocupar com algo.
- Sei... – ela passa as folhas em branco e o encara de novo – Quer entrar?
- Eu posso? Não quero perturbar Preetish-sama e Manisha-sama!
- Tudo bem, eles saíram. Começaram hoje a investigar quem os selou.
- Ah... E, se eu puder saber, por que eles não fizeram isso antes?
- Prudência. Foi por minha causa. – esclarece dando meia volta – Você vem?
O rapaz aceita a oferta e a segue até a sala. Acácia logo chama pelo nome de uma das borboletas azuis flutuando pela floresta e esta adentra o cômodo, indo direto para a cozinha após cumprimentar o convidado. Quando retorna, deixa uma bandeja com chá e bolinhos, como no dia anterior, faz uma reverência a Yukine e se retira voando. Os dois se servem e após alguns segundos, de olhadas tímidas da parte dele, ela se pronuncia.
- Como conseguiu sozinho chegar até aqui e passar pela barreira?
- Ah, isso?! Quando eu estava pensando em vir aqui, esta tatuagem brilhou. – fala ao mostrar as costas da mão direita – Manisha-sama me marcou.
- Ah, é o brasão da família! O padrinho e a madrinha o criaram para serem mais bem identificados. Como não têm o costume de sair muito por causa dos outros deuses invejosos, eles conseguem repassar suas mensagens e receber a crença das pessoas com a ajuda do brasão. Quando alguém o vê, sabe logo que estão por perto. Então foi assim que antes você conseguiu passar pela barreira do meu quarto também?
- Sim. Hoje eu só pensei que gostaria de vir aqui de novo e esta marca me trouxe.
- Sei... Escute, eu não queria ter sido grossa com você ontem, me desculpe.
- Ah... Não, você tinha razão de ficar brava! Eu fui ao seu quarto sem permissão!
- Com uma boa intenção, não para invadir, e eu fui muito hostil. É só que não me acostumei ainda com... Bem, com tudo. – o Shinki dá uma risada.
- Eu sei como é. É normal se sentir nervoso no começo, afinal, nós precisamos nos acostumar com outra vida. Ou quase... – os dois riem juntos inicialmente, mas ele pausa e fica rubro ao vê-la – Você tem um sorriso bonito.
- Ah... – seu sorriso murcha automaticamente e o loiro se arrepende de ter falado – Obrigada... Acho que começamos com o pé esquerdo ontem, então... – a jovem estende a mão direita, tornando a sorrir – Vamos tentar de novo. – a regalia aceita a proposta e se debruça sobre a mesa pra apertar sua mão – Olá, muito prazer. O meu nome é Acácia. Eu sou uma alma errante. – seu convidado ri.
- Igualmente. Yukine. Eu sou Shinki do Yatogami.
- Deus Yato, é...? Você já tinha citado o nome dele. É um deus novo?
- Está mais pra deus pobre. Ele é um deus menor que vive fazendo besteira!
- Parece preocupante. – ambos riem – Ouvi da madrinha que ele parece promissor.
- Acho que se pode dizer isso. Ele tem melhorado muito desde que deixou de ser um deus da calamidade. Mas nós ainda não temos moradia própria e...
- “Deus da calamidade”? Então ele era carrasco de outras pessoas?
- É, ah... Por assim dizer... Você não sabia disso?
- Não ouvi tudo. Mas soube que você é um Instrumento Abençoado. – o loiro se envergonha novamente, passando a mão na cabeça e rindo – Deve gostar muito dele.
- Como eu disse antes, ele é um mestre difícil de lidar, mas é legal.
- Acredito nisso. Você e aquela garota humana aparentam ser importantes pra ele.
- Fala da Hiyori? Ah é, eu tenho certeza que o Yato gosta dela! Na verdade todo mundo sabe disso, só ela que não. Também aposto que a Hiyori gosta dele, só não pode dizer isso. Os dois têm medo de ficarem juntos.
- O padrinho disse a mesma coisa. Eles deviam seguir o conselho dele e confessar o que sentem, ou pode ser tarde demais.
- Espera aí, o que quer dizer? Preetish-sama não disse nada pra gente!
- Ah não? Bom, não é como se fosse um segredo, é mais algo de senso comum. A maioria das pessoas só dá valor ao que tem depois de perder. O padrinho diz que se ama alguém de verdade, o melhor é contar para essa pessoa e arriscar o quanto antes, porque se não o fizer vai passar o resto da vida se martirizando por isso, pensando como podia ter sido diferente. Ele diz que mesmo se não der certo, o melhor é não ficar com crise na consciência. Eu penso a mesma coisa, e a madrinha também, é claro.
- Vocês têm razão. – Yukine junta os pés e apoia as mãos neles – Mas eles não me ouviriam se eu dissesse isso. Além do mais, tem muitos problemas envolvendo eles.
- Então pode ser melhor os dois conversarem com o padrinho e a madrinha. Eu os conheço há pouco tempo, mas estou certa de que eles podem ajuda-los, isso eu garanto!
- Eu digo isso pro Yato. – ele abaixa um pouco a cabeça – Ah... Acácia-chan, você não acha que seria melhor se tornar a Shinki de um deles?
- Não. – a resposta é fria e imediata, o que o assusta um pouco.
- Mas uma Shinki sem mestre pode ser devorada por Ayakashis!
- Antes eu fosse devorada, para não ser serva de alguém!
- Eles nunca te tratariam como “escrava” ou “arma”, e disseram que você sabe.
- Olhe, eu não sei se o padrinho e a madrinha te contaram, mas eu conheci os dois por acaso. Minha intenção nunca foi a de me aproveitar deles! Eles me acolheram e me protegem; sou muita grata, de verdade!... Mas... – ela suspira, baixando os ombros – Eu só não quero passar o resto da minha vida... Ou pós-vida, sei lá, fugindo de fantasmas malignos e me escondendo num templo na floresta! Não é porque sou ingrata, é que...!
- Eu te entendo. – ele interrompe – Entendo mesmo, de verdade. Infelizmente, não tem jeito de você conseguir sair em segurança daqui sem ser se tornando uma Shinki. E não é ruim como parece! Você pode fazer coisas incríveis, coisas que nunca imaginou!
- Claro. Então, se é tão bom assim, diga-me: você sabe qual é a diferença entre os Ayakashis e os Shinkis? – a regalia franze o cenho, um tanto assustado pela expressão de vazio nos olhos outrora bonitos – Eu sei responder a isso claramente, talvez porque esteja exatamente no meio dos dois. Sabe o que é?
- Bem, isso devia ser óbvio. – o loiro sorri, apertando as mãos com uma repentina incerteza ao contrário do que tenta transmitir – Os Ayakashis são malignos e os Shinkis são almas puras que servem aos deuses.
- Não é essa a maior diferença. – o Shinki volta a ficar sério – O que os diferencia mais está no fato dos Ayakashis poderem ser ouvidos pelos humanos. – as pupilas dele se expandem e ela permanece sombria na sua resposta – Você sempre pode escutar uma vozinha na sua cabeça, te mandando fazer coisas ruins, mas nunca conseguirá ouvir um Shinki. Você é invisível. – desta vez os orbes do rapaz se contraem de choque – Você já deve ter sofrido com a dor de saber que ninguém, nunca mais, mesmo tentando bastante, saberá da sua presença ali. Se você ficar quieto se mistura com o vento, se fizer alguma coisa pra chamar atenção corre o risco de se tornar um Ayakashi, mas aí nunca mais vai ressuscitar. Em outras palavras, mesmo tendo que coletar outra vez os oito atributos da vida, Deuses da Calamidade podem renascer, mas os Shinkis só ganham esse direito se forem mortos como armas divinas ou se seu nome humano for dito. Se sucumbirem às trevas eles perdem esse direito, como corre o risco de acontecer a qualquer alma errante.
- Por quê...? – Yukine questiona num sussurro, abalado e suando.
- Por quê? Porque deuses têm privilégios, mesmo não podendo fazer tudo que eles quiserem. Shinkis só são ferramentas, querendo ou não. Vocês estão entre o Plano dos Vivos e o Espiritual, presos entre os dois caminhos até seus mestres morrerem de fato, e não há nada que possam fazer para mudar isso. – seu ouvinte engole a seco, olhando um ponto qualquer na mesa sem real foco e muito desconfortável – Escondida aqui eu ainda posso fazer de conta que não sou invisível e posso conversar com seres gentis, mas toda noite as minhas memórias de vida voltam para me assombrar e lembrar a verdade: estou morta. Mesmo assim, não é algo que me deixa infeliz de qualquer forma. – o rapaz sobe a cabeça novamente, meio confuso – Morta ou viva não me faz diferença. Eu sempre fui invisível. – ela sorri inesperadamente – E você Yukine-kun? Gosta de ser invisível?
Antes que ele possa responder, os dois ouvem vozes do lado de fora. Acácia ergue a cabeça, dispersando a sombriedade no olhar, e levanta para ver quem é. Yato e Hiyori estão subindo as escadas, acompanhados de Preetish e Manisha. O quarteto ri por algum motivo. A garota dá meia volta e ainda fita a regalia rapidamente, então foge para o seu quarto a passos rápidos antes que possa ser impedida.
- Yukine! – a deusa sorri e estranha sua posição paralisada, mirando o corredor – Está tudo bem? Acácia não apareceu para lhe fazer companhia?
- Ah... Não, ela... Quer dizer, sim! Ela estava aqui agora há pouco.
- Yukine, seu safado! – seu mestre pula em seu pescoço – Por que não disse que ia fazer uma visita? Fugiu de mim sem mais nem menos! Eu acordei e você não estava em nenhum lugar da casa da Kofuku e do Daikoku, então fiquei feito louco te caçando!
- Ele ficou muito preocupado. – a humana acrescenta, deixando-o rubro e fazendo os demais rirem – Como conseguiu chegar aqui sozinho, Yukine-kun?
- A marca que a Manisha-sama me deu me trouxe aqui.
- Imaginei que fosse isso, por isso tranquilizamos estes dois quando fomos visitar Kofuku e Daikoku. – o deus do amor se dirige para a cozinha – Querem comer algo?
- Eu quero voltar a dormir. – Yato declara bocejando – Acordei muito cedo.
- Pode ficar à vontade. Os quartos para hóspedes ficam no corredor à direita.
- Obrigado senhora Manisha! – ele sai saltitando e abrindo as portas do corredor.
- Ei Yato, deixe de ser bisbilhoteiro! Puxa... Desculpe por isso.
- Está tudo bem Yukine. Preetish querido, Yukine e Acácia parecem já ter comido algo, então traga uma bebida para mim e a senhorita Hiyori, está bem?!
- Certo. Imagino que ninguém seja contra uns petiscos. – o homem se retira rindo.
- Não precisam me chamar de “senhorita”, basta Hiyori mesmo.
- Está bem então, Hiyori. – as duas sorriem antes de a moça tropeçar.
- O que são essas coisas no chão? – ela as segura – Yukine-kun, você trouxe isso?
- Sim, eu trouxe pra Acácia-chan. – as mulheres o encaram com surpresa – O quê?
- “Acácia-chan”? – Hiyori sorri sugestiva e ele fica completamente vermelho, no que ambas tentam não rir para não deixa-lo mais constrangido – Vocês ficaram amigos?
- Não é isso! Quer dizer... – a súbita tristeza dele faz Manisha franzir o cenho.
- O que houve Yukine? Acácia disse alguma coisa ruim para você, te tratou mal?
- Não, não, não é isso! – se apressa em dizer, balançando as mãos – É que... Soube que vocês estavam fora investigando o culpado pela sua prisão.
- É verdade. Foi uma busca sem resultados, por enquanto.
- Bom... A Acácia-chan me disse que vocês não tinham começado a fazer buscas ainda por causa dela. Acho que ela se sente... Um incômodo.
- “Incômodo”? Ora, que bobagem! Acácia é como uma filha para Preetish e eu! Se não saímos muito neste primeiro mês foi porque queríamos educa-la primeiro, para ficar acostumada a esta nova realidade. O que ela disse para você?
- Ah... Eu... Não sei se devia contar. – Preetish retorna neste momento.
- Acho que devia. Nós insistimos. – ele responde e o rapaz fita a amiga.
- Tudo bem Yukine-kun. Eu vou vigiar o Yato e deixar vocês à vontade.
Não era essa a intenção do seu olhar suplicante, contudo agora não há volta. Com um suspiro, senta no mesmo lugar e os espera se acomodarem para falar o que ela disse.
...
- Yato...? – Hiyori cantarola seu nome ao entrar no terceiro quarto e por fim o vê, deitado na cama de casal macia com lençóis brancos – Puxa vida, você se larga mesmo em qualquer canto! – comenta baixinho, sorrindo ao se aproximar – Devia se ver agora Yato; está com um sorriso enorme. É bom descansar em um lugar confortável, não é?!
A moça senta ao lado direito dele e fica parada, o observando por algum tempo. O deus dorminhoco continua de braços abertos, resmungando algo. Para tentar ouvir o que é isso, ela dobra os joelhos e se debruça sobre seu corpo. Quando chega mais perto, num inesperado aperto Yato a puxa para si e diz seu nome com um grande sorriso, beijando-a na sequência. O braço direito segura suas costas e a perna esquerda levanta um pouco.
A jovem permanece paralisada, sentindo o selinho fazer seus lábios formigarem e as mãos dobrarem, puxando de leve o lençol da cama e a manga do moletom dele. Logo a palma atrevida dele desliza das duas blusas dela, a sem mangas por cima da outra mais transparente, para sua saia. Num gesto inconsciente, ele pressiona os dedos contra o seu bumbum e imediatamente é acordado na base do tapa, logo sendo jogado no chão.
- Que é isso Hiyori? Por que me bateu? – pergunta ao se apoiar na cama pra subir, com a mão na bochecha quente, e se assusta com o olhar nervoso dela.
- COMO AINDA PERGUNTA ISSO, SEU TARADO?! VOCÊ ME APALPOU!
- Ah? Do que está...? – antes que possa se defender, Yukine entra desesperado.
- Acácia-chan...! – ele recupera o fôlego – Acácia-chan sumiu!
Continua...
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