A Dona do Pedaço

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segunda-feira, 7 de março de 2016

A Solidão

Então pessoal, quando eu vou escrever algo novo a primeira coisa que faço, às vezes até antes mesmo de planejar o título das histórias, é escolher as fotos. De acordo com a quantidade de imagens que quero acrescentar, eu calculo uma quantidade exata de capítulos. Estava planejando encerrar esta fanfic com 19 capítulos, mas decidi acrescentar mais dois e um especial. Como não quero dar spoilers, vou apenas terminar nesta informação e deixá-los ler a continuação. Uma curiosidade é que é a primeira vez que uso uma imagem do tipo gif numa fic. Kkk Abraço!

Cap. 7
A Solidão


- Como assim “sumiu” Yukine? – Yato lhe questiona – Ela desapareceu?
- É isso que significa sumir, seu idiota! Estou dizendo que ela não está aqui!
- Ei, não fale comigo deste jeito! Eu não tenho culpa de nada!
- Desculpe... – o loiro abaixa a cabeça e vendo sua aflição o casal no quarto tenta ignorar a briga anterior e se aproxima dele.
- O que aconteceu Yukine-kun? Onde estão Preetish-sama e Manisha-sama?
- Estão procurando no templo! Acontece que eu contei pra eles umas coisas e...!
- Comece pelo princípio. O que você disse? – seu mestre insiste.

Yukine conta tudo que Acácia lhe disse durante a conversa de meia hora atrás. A dupla de ouvintes se surpreende com algumas coisas, como ele se surpreendeu. Ao final da história, Hiyori põe a mão no ombro do Shinki, para tentar tranquiliza-lo.

- Eu tenho certeza de que ela está bem. Pode ter ido tomar um ar na floresta, como já fez antes. Os animais vão protegê-la se alguma coisa acontecer.
- Mas e se um deles for possuído por um Ayakashi, como já aconteceu com aquela marmota? Ela não tinha permissão para sair e agora Preetish-sama e Manisha-sama até podem castiga-la, tudo porque eu não fiquei de olho!
- Ei, a culpa não é sua, pare de ficar se culpando! Ela não é nossa responsabilidade de qualquer jeito. – os dois encaram o deus parecendo indignados, então ele completa – Mas podemos ajudar a procurar na floresta. Agora, se um de vocês ficar em perigo por causa dela, eu não vou me responsabilizar pela segurança daquela menina!
- Acácia-chan não é uma garota má, Yato. – a moça afirma – Ela só está confusa e se sentindo assustada. Você sabe como é.
- Pode ser, mas não me importa! A minha prioridade são vocês dois. – os amigos se entreolham e sorriem pela expressão emburrada e ao mesmo tempo envergonhada do rapaz – Agora vamos logo, antes que dê tempo de alguma coisa ruim acontecer!

O quinteto vasculha tudo com a ajuda dos espíritos da Floresta das Almas, porém nenhum sinal da garota. Manisha pede que uma das borboletas envie uma mensagem ao grupo de aliados para ajudarem nas buscas. Ao fim do dia só há uma conclusão lógica: ela fugiu para a cidade. Com a mesma determinação, todos se dispõem caridosamente a continuar com as buscas por respeito aos Deuses da Fortuna. Logo escurece.
Com o local marcado para o encontro sendo a residência de Kofuku e Daikoku, os membros da equipe se dispersam. Yukine vasculha todos os lugares conhecidos e então se vê na mesma praça onde um dia teve a infelicidade de ver aquela garotinha que não sabia da sua condição de fantasma ser consumida por Ayakashis. Por coincidência, bem no mesmo banco onde fizeram companhia um ao outro lá está Acácia.
Seu semblante é deprimente, abraçando as próprias pernas dobradas e observando o chão com olhos vazios. Ele recupera o fôlego pela corrida até ali e vai se aproximando a passos lentos. Ela só levanta a cabeça quando a regalia já está na sua frente.

- Acácia-chan, eu te achei! – diz sorrindo, sem obter resposta – O que...?
- Se importa? Está tapando a luz. – o loiro olha para o poste e senta ao seu lado.
- O que está fazendo aqui? Por que fugiu de novo?
- Não estava me sentindo bem. – responde simplesmente.
- Preetish-sama e Manisha-sama estão loucos atrás de você! Todo mundo está te procurando! – a jovem vira o rosto um tanto surpresa.
- “Todo mundo”? – ele acena afirmando – E por quê?
- Como “por que”? Porque nos importamos com você!
- Só que eu não sou nada de vocês. Não precisam se preocupar comigo.
- Mas... – o rapaz se lembra do que Yato disse e faz uma careta – Mas mesmo não precisando eu me preocupo! Eu me importo com você!
- Se importa? – o Shinki acena confirmando, então ela cola a bochecha esquerda no joelho direito e fica o encarando sem piscar – Os seus olhos são lindos. – fala sem pensar, deixando-o rubro – Mas não consigo dizer que tipo de cor eles têm. – ele dá um riso deprimido, balançando os ombros uma vez.
- Já me disseram que eles se parecem com frutos de alguma planta espinhosa, mas do tipo nem doces, nem amargos ou até venenosos. Só... Não valem à pena. – a voz dele decai ainda mais – Por isso nem os pássaros se aproximariam da planta para comê-los, e nenhuma pessoa se interessaria em colhê-los. São frutos que... Ficam abandonados para murcharem, apodrecerem e morrerem. – ri novamente, fingindo ignorar as suas próprias palavras pesadas – É triste, não acha?! – quando ele encara a ouvinte, se assusta por vê-la mais surpresa e séria do que imaginava.
- "Triste"? – repete quase num sussurro, virando o rosto para a escuridão à frente – Acha isso triste? – o jovem não dá uma resposta de imediato, estranhando sua reação – Você sabia que a acácia espinhosa é uma espécie de planta autossuficiente?
- Verdade? – Yukine pergunta, sendo esta a sua vez de ficar surpreendido ao ver que a expressão de Acácia sugere um rumo nada agradável para a conversa casual.
- Sim. – ela prossegue sem ânimo na voz – Ela não necessita de muita água e, com suas raízes, sufoca qualquer árvore que cresça ao seu redor. Suas flores também têm o poder de cegar, as sementes de levar à morte, e a única parte da planta utilizada como antídoto é a raiz. Isto quer dizer que se deve ter cautela quando se trata desta árvore.
- Onde está querendo chegar? – ele se assusta ao vê-la olhar em sua direção, com olhos vazios tal qual o silêncio da noite, voltando à posição anterior.
- O meu nome define quem eu sou. – a moça responde numa voz arrastada – Uma acácia solitária e assustadora. Em vida, eu não tive nenhum amigo, fui abandonada por meus pais e morri num incêndio, sem que ninguém viesse me socorrer. – ela move só os olhos para o outro lado, ainda soando bem depressiva – Eu nasci fadada a afastar todas as pessoas de perto de mim. Não era desejada, não era amada... Não era nada. – o rosto do rapaz se contrai em uma careta de medo ao vê-la encará-lo de novo, com seus lábios entreabertos – Você me entende? Por que eu ia querer viver de novo?
- Mas... – as palavras fogem à mente por uns instantes, vendo-a tão assustadora, então sua expressão se torna firme, ainda que as mãos tremam ao segurar a garota pelos ombros – Você só cometeu um erro no passado! Certo, você foi castigada por isso, mas se aceitar o que aconteceu vai poder reencarnar e ter uma vida melhor!
- Do que você está falando? – a alma errante o fita confusa.
- Preetish-sama e Manisha-sama disseram que quando as pessoas cometem erros em vida, elas precisam ser castigadas na próxima encarnação. Com certeza foi isso que aconteceu com você! Porém já acabou, então, se você aceitar isso, se quiser seguir em frente, poderá renascer e ter um destino melhor dessa vez! – a jovem continua o olhando em silêncio, sentindo o aperto nos braços diminuir até a regalia soltá-la completamente.
- Yukine-kun, você sabe o que acontece quando um deus convoca uma alma para ser seu Shinki? – ele permanece quieto – O fantasma não tem mais chance de consertar o que deixou pendente antes de morrer, porque já não se lembra do seu passado, como você. Eu sou uma alma errante que lembra quem era quando viva e não gosto disso, mas também não posso largar meu arrependimento, porque eu... – ela começa a chorar, sem mover um músculo – A única coisa que queria era viver. Eu queria... Pessoas calorosas, um lar... Eu queria amigos, uma família... E... Não posso sentir mais nada.
- Acácia-chan... – as lágrimas dela aumentam e as dele iniciam.
- Eu não tenho mais pra onde voltar... Nunca tive. Estou sozinha, sempre estive. Se eu aceitar isso... – o casal chora junto, a garota batendo com pouca força os punhos no peito do loiro fungante – Se eu... Se eu aceitar...! Se eu aceitar, o que vai acontecer? EU QUERO MORRER, MAS JÁ ESTOU MORTA! – Yukine a abraça, pondo o rosto entre os cabelos de Acácia enquanto ela aperta as suas camisa e jaqueta, com a cabeça no peito masculino – EU NÃO VIVI NADA! EU NASCI MORTA! NINGUÉM ME QUER E NEM NUNCA QUIS, NÃO POSSO ACEITAR ISSO! QUE PECADO EU COMETI PRA DEUS ME CASTIGAR ASSIM? POR QUE TODOS ME ODEIAM?
- NÃO DIGA ISSO! – o grito dele sobrepõe o dela finalmente, acalmando ambos um pouco – Eu não odeio você! Os outros também não; Yato, Hiyori, Kofuku, Daikoku, nenhum deles te odeia! Se... – o Shinki toma fôlego, soluçando uma vez mais – Se você não consegue seguir em frente... Nós vamos te ajudar. – a moça resmunga, sentindo seu corpo ser trazido com mais força para junto da regalia – Nós vamos ser sua família, seus melhores amigos! Vamos te dar um lar pra voltar; vamos rir juntos, nos divertir juntos, chorar, brigar, e depois de ficarmos com raiva um do outro nós faremos as pazes! Eu te prometo que faremos tudo como você sempre sonhou, só...! Por favor, não diga aquelas coisas outra vez! – as lágrimas do rapaz provocam mais uma enxurrada vinda dela, que finalmente retribui seu abraço, e ambos choram por um longo tempo até sossegarem.
- Acho que somos parecidos então... – ela fala com a voz abafada, rindo sem graça – Uma planta espinhosa e um fruto vazio.
- É... Acho que sim... – o loiro concorda com o mesmo sorriso triste, mesmo mais aliviado, e esconde o rosto nos cabelos macios de novo sem notar a presença camuflada de todos os membros do grupo de busca presenciando a cena.
...
- Muito bem, ela já dormiu. – Manisha avisa aos presentes na sala, tendo voltado do quarto da afilhada com seu marido – Oh Yukine, como podemos te agradecer?
- Está tudo bem Manisha-sama, eu... Também não fiz nada de mais.
- É claro que fez! – Preetish afirma sorrindo, recolhendo o caderno de desenho e o estojo com canetas da mesa de centro – Você conseguiu liberar toda tensão reprimida da Acácia de uma única vez. Graças a isso ela está bem melhor. Acho que a noite será mais tranquila hoje e seus pesadelos irão embora, finalmente!
- Fico contente. – ele responde colocando sua bolsa na diagonal – Só conversamos um pouco. Depois que ela desabafou eu até comecei a chorar também! – diz rindo.
- Nós sabemos. – Yato responde maliciosamente, deixando-o chocado e rubro – A propósito, que história foi aquela de vocês serem parecidos?
- Vocês estavam espiando? – a regalia loira reclama – Até quanto vocês ouviram?
- Eu perguntei primeiro! Responda! – o rapaz cruza os braços e vira o rosto.
- Não é da sua conta, seu deus pervertido. – o ex-deus da calamidade abre a boca e faz um som agudo de surpresa antes de uma veia saltar da sua testa.
- COMO DISSE? REPITA SE FOR HOMEM, SEU SHINKI PROBLEMÁTICO!
- Eu ouvi tudo antes de entrar no quarto. Hiyori disse que você a apalpou. – todos os olhares se voltam para os dois, mais ainda a ele.
- Isso é verdade Yato? Por favor, diga que é mentira! Como teve coragem?!
- Por que parece tão nervoso com isso, meu senhor? – a ciumenta Tsuyu reclama.
- Realmente não esperava que chegasse a esse ponto, Yato. – Kazuma balança sua cabeça em reprovação, arrumando os óculos.
- Eu esperava. – Bishamon confessa com cara de paisagem.
- Você, seu canalha miserável...! – Daikoku o agarra pela gola do agasalho.
- Como pôde Yatinho? – Kofuku abraça Hiyori – A pobre Hiyorin foi violada!
- Peraí, eu não fui “violada” coisa nenhuma! – ela se desprende – Não aconteceu nada do que vocês estão pensando! Mas o Yato realmente me apalpou...
- O QUÊ? – a maioria berra com surpresa e alguns muito aborrecidos.
- ESPEREM, ESPEREM! Do que está falando Hiyori? Eu não me lembro de ter feito nada disso! Por favor, não deixe eles me matarem!
- Gente, GENTE! – o grito dela faz todos se acalmarem – Yato disse a verdade. O que aconteceu foi um acidente. Eu acho... – responde envergonhada.
- Como assim você acha? Quando foi que eu te apalpei?
- Quando estava dormindo. – todos o encaram ameaçadoramente de novo – Mas foi inconsciente! Só que... Você disse meu nome enquanto dormia. – Yato cora inteiro e a jovem também ganha uma cor mais avermelhada – E...
- Ele fez mais alguma coisa? – a deusa da pobreza questiona e a moça comprime a boca numa linha fina, fazendo Preetish e Manisha se entreolharem sorridentes.
- Não... Por favor, gente, já chega! – o Shinki mais velho obedece, soltando-o.
- Caramba...! Viu só o tumulto que você fez Yukine?!
- Eu? Até parece que a culpa é minha! Você que estava bisbilhotando!
- Todo mundo estava, não posso fazer nada quanto a isso.
- E como foi que vocês souberam onde estávamos? – o loiro pergunta um tanto ruborizado e de braços cruzados, então seu mestre toca a parte de trás do pescoço.
- Você me picou, então eu soube onde estavam. – a regalia se surpreende e abaixa a cabeça tristemente – E foi uma picada forte!
- Desculpe. – neste momento a deusa da mente e do desejo se aproxima.
- Tudo bem Yukine. Você estava preocupado com Acácia, é compreensível. Posso ver isso Yato? – ele permite que ela toque a área afetada e logo a mancha desaparece – Como está agora? – Yato passa a mão muitas vezes no local com surpresa.
- Não sinto nada! Incrível! – todos chegam perto para verificar – Como fez isso?
- Mudei sua percepção de dor. Eu tenho a capacidade de me aproximar das mentes das pessoas. Acredite: as coisas, de fato, não são o que parecem. Se algo tem valor ou se é inútil, você decide. Às vezes damos importância demais a problemas pequenos. Se os Shinkis sofrem com seus arrependimentos, saudades e tudo mais deixado no Plano dos Vivos, reprimir seus sentimentos não é tarefa que cabe aos deuses nem a qualquer um. É um processo natural de perda com o qual todos devem aprender a lidar sem pressa. Pare de se preocupar com o comportamento do Yukine e continue acreditando nele, então as dores vão sumir. Isso também vale para os outros. As picadas são apenas o reflexo das suas preocupações, o mesmo que dores de cabeça são para humanos estressados. – todos agradecem e por fim o grupo se vai, deixando os anfitriões olhando da porta.
- Não sei você, mas eu estou vendo quatro casais indo embora.
- Ora, e não foi por termos a mesma visão de mundo que nos casamos? – os dois sorriem – Seria lamentável deixa-los se perderem no comodismo. E Yukine na solidão...

Continua...

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