sábado, 12 de maio de 2012
O Toque da Paixão
Cap. 7
O Toque da Paixão
“O que você deseja?”. Essa frase nunca mais passara pela mente de Lelouch desde o terrível incidente de anos atrás, no qual ele e sua irmã, inevitavelmente, se envolveram. Em sua infância mimada, o pequeno príncipe já quis brinquedos, roupas coloridas e até um cavalo. C.C. tem tudo isso, mas agora essas coisas não interessam ao rapaz. Sonhos e diversão ficaram no passado, e suas vestes atualmente se resumem a preto e branco.
O Lamperouge virou um homem desiludido com um único objetivo na sua cabeça: cuidar do pouco que lhe restou de bom na vida. Em resumo, sua irmã e seus amigos. Se fizesse uma rápida autoanálise, algo que está fazendo neste momento, perceberia, como está percebendo, que tudo desejado e recebido em sua infância não foi fruto de um real desejo e sim de meros caprichos. Ele podia ter o que quisesse com a riqueza da família.
Seus pais, de fato, não se incomodavam com pedidos egoístas. Eles mesmos eram muito egoístas. Foi o que levou à sua ruína. Então, se alguém dissesse ao momentâneo entregador de pizza para tomar cuidado com aquilo que deseja, pois cada desejo exige um pagamento caro, talvez ele risse com desdém antigamente, mas hoje confirmaria tal alerta. Desse modo, passos cautelosos parecem ser a melhor escolha num campo minado.
- Fale de uma vez, Lamperouge, o que você deseja? – a voz de C.C. soa em seus ouvidos, e após alguns segundos fitando-a, o motoboy pisca ao despertar de sua reflexão.
- Eu vim para informar que serei o seu segurança a partir de hoje. – ele sorri com confiança, fazendo uma sobrancelha da ricaça arquear.
- Como é que é? E quem decidiu isso? – ela olha para os empregados.
- Eu mesmo. – Lelouch responde – Na verdade, a decisão foi bem fácil de pesar, já que não sou chegado à pizza e aqui serei mais bem pago.
- Você andou bebendo? E o seu emprego na pizzaria? Espere, você foi demitido?
- Não. Ao contrário do que pensa, você não é indispensável na minha vida. Por enquanto... – o Lamperouge aumenta seu sorriso enigmático vendo a expressão confusa dela – Posso largar meu emprego se me aceitar por perto. Será mais fácil para nós dois.
- “Fácil para...” – a dona da casa se interrompe e sorri de modo sinistro, levando os criados a recuarem – Que tipo de piada é essa? Não tem porte para ser meu segurança!
- Posso compensar a falta de músculos com inteligência para criar emboscadas.
- Eu sei bem disso. – a mulher rebate depressa, fazendo referência ao plano dele para seduzi-la; algo que o motoqueiro logo entende.
- E se fizermos uma aposta? Eu passo por um período de teste, e se for aceito, sou contratado permanentemente. Se fracassar, faça comigo o que quiser.
C.C. ouve a proposta com interesse, erguendo a cabeça e observando o intruso de cima a baixo. “Ousado” e “abusado” o resumem bem, diante sua análise. “Imprevisível” e “arrogante” também serviriam. Contudo, a jovem não pode negar que às vezes ele age como um líder, passando confiança para seus admiradores e ganhando o respeito deles. Isso fora comprovado durante sua conversa particular com Euphemia, entre comentários casuais. E foi por isso que seus empregados conquistados o deixaram entrar na mansão.
- Nos deixem a sós! – ela ordena aos colegas de escola dele.
Embora um tanto preocupados, eles saem do quarto e fecham a porta. Ao levantar, a herdeira de Corabelle exibe um elegante body preto com decote profundo, deixando o visitante do aposento desconcertado e atiçado ao mesmo tempo. Mesmo quando a moça coloca o longo robe transparente da mesma cor, antes pendurado na cabeceira da cama de casal, sua mente sofre dificuldade em retomar a linha de raciocínio. Algo perturbador.
- O que está planejando agora, Lamperouge? O que vai ganhar com isso?
- Além de um salário melhor? – o rapaz brinca, porém retoma a seriedade vendo a inexpressividade dela – Eu vim me redimir pelo meu erro.
- Eu disse como você poderia me compensar por tudo, e parte do acordo era sumir.
- Sei disso, mas... O que você exigiu foi pouco. Não quero manter uma dívida que eu posso pagar. Neste caso, estou permitindo que me use como eu te usei sem permissão.
- Se é “olho por olho, dente por dente”, deveria esperar que eu usasse você sem o seu consentimento. – C.C. cruza os braços.
- Bom, não parecia que você ia se dar ao trabalho de fazer uma chantagem. Mas se é o caso, podemos esquecer que isto aconteceu e eu espero pela sua emboscada em casa. – ele faz menção de ir embora e a ricaça suspira.
- A única pessoa com coragem para me perseguir, que imagina me conhecer bem e é insistente o suficiente para comprar briga por isso, pode ser demais para você lidar.
- Está me subestimando. Eu não sou o tipo de homem que se dá por vencido pela pressão de qualquer um, então não faça isso.
- Não tenho motivos para confiar em você quando está se comportando como um idiota. – ambos franzem o cenho – Eu tenho poder suficiente para deixar a sua vida de ponta-cabeça. Se envolver comigo é suicídio social. Esqueceu do que sou chamada?
- Eu me lembro muito bem, porém não tem problema. Se você é uma bruxa, então me tornarei um feiticeiro. – ouvindo tal convicção, a moça fita o jovem silencioso com a boca semiaberta em surpresa, até que, de repente, sorri e estende a mão para ele.
- Por enquanto, vamos estabelecer um contrato. Você conseguiu me encantar... Eu vou te retribuir o favor de espantar meu tédio, e compensar a sua vitória em me tirar do meu refúgio, feiticeiro. – Lelouch demora a responder, ainda chocado e estimulado com as palavras da mulher a sua frente, mas acaba sorrindo e apertando a palma dela.
- Então eu aceito, bruxa. – C.C. ri e solta sua mão devagar, deslizando seus dedos pelos dele suavemente e provocando um arrepio gostoso no motoqueiro.
- Agora, se bem me lembro, você está me devendo uma carona. Estou com fome agora, então vamos sair mais tarde. Prepare sua moto.
Sem esperar por uma resposta, ela começa a jogar suas roupas no chão antes que o Lamperouge possa virar de costas. Depois que sua nova patroa termina de se trocar, ele abre a porta do quarto e lhe dá passagem, anunciando a vitória com um aceno de cabeça para os colegas no primeiro andar. Eles fazem uma leve celebração, que posteriormente é explicada pelo fato da herdeira de Corabelle agora ter uma companhia para se divertir. E, por consequência, ela não implicará tanto com os demais empregados.
Quando a ricaça dispensa a todos pelo resto do dia, exigindo apenas sua presença para cumprir a tarefa designada, o novo segurança sorri em conformidade e segue para a cozinha, pegando a bandeja deixada sobre o balcão da pia e levando à sala de jantar.
- Até onde eu saiba, seguranças deviam ficar vigiando, e não servindo chá.
- Mas eu estou de vigia. – Lelouch deposita na mesa os objetos do lanche tardio – Para proteger você adequadamente, não posso ficar lá fora.
- Bem, quero lembrá-lo que a mídia nos caçará quando todos souberem que está trabalhando para mim. Especialmente depois de ter entrado aqui sem a menor cautela.
- Estou ciente. Já planejava pedir demissão ao meu chefe na pizzaria.
- Ainda acho que está louco, por sair de um emprego tão genial. – C.C. morde um biscoito enquanto sua companhia ri e se senta em uma cadeira ao lado.
- Sabe, talvez as pessoas não especulassem tanta coisa sobre você se fosse menos antissocial. Claro que é complicado sair na sua posição, tendo paparazzi te perseguindo o tempo inteiro, mas quem sabe até eles reduzissem a caçada sem motivos pra fazer isso.
- E por que eu deveria me dar ao trabalho de criar um personagem para mim com o único intuito de agradar aos outros? Especialmente aqueles que gostam de falar mal de desconhecidos independente de ter justificativa.
- Porque assim as pessoas se entediariam e poderiam interromper as fofocas. Não teria que fazer algo trabalhoso. Comece trocando suas roupas.
- Qual o problema com minhas roupas? – a jovem para de passar creme no pão.
- Elas são... Reveladoras demais, não acha?! – o motoqueiro observa de relance o cropped suplex branco da moça, baixando o olhar envergonhado enquanto ela passa sua língua sobre os lábios – Nunca se preocupou com a presença dos homens que te servem?
- Esta casa é minha, então eu faço o que quiser. Não costumo sair na rua porque é menos uma maneira de me aborrecerem. E já que eu tenho condição, não vejo razão pra isso. Além do mais, escolher as minhas roupas com base no comportamento masculino é uma coisa ridícula para se fazer. – a mulher lambe o molho do indicador esquerdo sem desviar os olhos do rapaz, constrangendo-o ainda mais – O senhor machista considera mais importante passar uma boa impressão do que exercer seus direitos de vestir o que quiser e agir como bem entender?
- Não. – o Lamperouge responde de imediato, ainda sentindo vergonha, mas agora de si mesmo – Desculpe. E eu não sou “machista”.
- Oh... Toquei em alguma ferida? – a ricaça morde o pão – Parece constipado.
- Não estou “constipado”. E não fale de boca cheia.
- Porque é algo descortês? – C.C. termina de engolir e sorri, pondo seu queixo na mão erguida sobre o cotovelo direito na mesa.
- Porque é nojento. Manter os cotovelos sobre a mesa é descortês.
- E quem se importa? – ela dá de ombros e volta a comer, despertando curiosidade.
- Você não parece ter sido criada como uma moça rica.
- É porque eu não fui. – a jovem comenta casualmente, surpreendendo-o – Quero dizer, fui até certo ponto. Para ser exibida, aprendi o mínimo de etiqueta. Dentro de casa, fui criada por qualquer empregado que estivesse disponível. Corabelle não se importava.
- Como assim? Mesmo você sendo filha dele? – neste momento, a moça limpa sua boca e cessa os movimentos ao se recostar seriamente na cadeira.
- Não sou filha legitima dele. – a notícia, de imediato, choca o segurança – Eu fui entregue a um orfanato de freiras quando era pequena, e passei a maior parte da infância lá. Quando fui adotada para me tornar uma Corabelle, a única intenção era popularidade.
- Sei... Lembro-me de alguns jornais relatarem a intenção cretina daquele homem de se tornar político, mas quando souberam das dívidas de jogo dele, nem o apoio dos bêbados ele conseguiu manter. Então Corabelle te adotou para parecer mais simpático?!
- Mais especificamente, eu fui comprada para ele fazer papel de pai solteiro.
- O que quer dizer com “comprada”? – C.C. limpa a garganta e desvia o olhar.
- Houve um incidente na época e o orfanato precisou de dinheiro. E ele tinha.
- Compreendo... Bem, eu vou lavar a louça agora.
- Tudo bem, eu ajudo. – Lelouch ergue uma das sobrancelhas ao vê-la recolher os objetos sujos – Estou entediada. E quanto mais cedo terminarmos isto, mais cedo você pode me levar para onde quero ir. – ela justifica, ignorando o sorriso malicioso dele.
...
No começo da noite, Lelouch estaciona sua moto em frente a um antigo orfanato, escondido da cidade grande. Carregando nas mãos as caixas de doce que encomendara da doceria de Suzaku e Euphemia, C.C. encara a fachada da igreja com uma expressão de melancolia. O Lamperouge fica curioso ao vê-la suspirar antes de andar até a porta, mas gera um sorriso na mesma proporção que ela quando a entrada do prédio é aberta e uma freira os recebe de braços abertos. Em questão de segundos, várias crianças surgem.
Elas correm até a convidada repetindo seu codinome, pulando para tentar pegar as caixas antes que essas sejam depositadas em uma mesa do salão principal. Rapidamente, a madre do local vai até a dupla para cumprimentá-los, e enquanto a ricaça se dispõe a dar uma distração, brincando com os pequenos no jardim, seu segurança aceita conhecer o ambiente. Depois de darem uma volta, os dois retornam ao quintal a tempo de ver C.C. se escondendo dos órfãos que a procuram, e começam a observar a cena de longe.
- Ela parece ser adorada aqui. – Lelouch ri do susto que a patroa dá em um garoto.
- Bom, nós tentamos fazer com que ela se sinta assim. Após tudo que a coitadinha passou, e com o tanto que já nos ajudou, isso é o mínimo a retribuir.
- Desculpe, mas o que quer dizer com isso?
- Oh, você não sabe! – a idosa toca a bochecha direita – É que... Quando ela tinha 10 anos, antes de se tornar uma Corabelle ou mesmo de se chamar de C.C., uma freira jovem ficou doente e quase matou as crianças. Nós tentamos impedi-la, e chamamos a polícia, mas aquela pobre mulher perturbada ainda feriu C.C., cometendo suicídio logo depois. – as pupilas do ouvinte se contraem em horror, e então ele se lembra de algo.
- Ela... Ela chegou a ficar com alguma cicatriz?
- Creio que sim, já que houve muitos cortes feios para serem curados.
- Entendo... – o Lamperouge encara a distante herdeira de Corabelle com pena.
...
De volta à mansão Corabelle, Lelouch segue C.C. para a sala de jantar, carregando duas caixas grandes nas mãos. Como exigido, sua última parte do pagamento: pizzas de um novo tipo que estreou no cardápio da Pizza Hut. Antes que ele possa colocar talheres e pratos na mesa, a ricaça começa a atacar uma fatia com gosto, fazendo-o rir conforme senta perto dela. Depois, na hora de lavar a louça, os dois dividem tarefas na cozinha.
- A propósito, você não deve ler revistas de fofoca, não é?!
- Claro que não. – o rapaz passa outro prato para ela enxugar – Por que pergunta?
- Porque a Milly assina revistas do tipo, e a correspondência deixou isto na caixa do correio esta manhã. – a mulher pega uma revista sobre o balcão e levanta na altura de sua cabeça, sabendo que o jovem se assustou ao ver a capa mesmo sem fitá-lo – Parece que eu não fui a única a mudar de nome, ou passar por um evento trágico aos 10 anos.
- O quê? – o Lamperouge seca suas mãos em um pano e pega o objeto, folheando páginas até parar na matéria que fala de si – Como esses desgraçados descobriram isto?
- Do jeito que sempre fazem: xeretando. – a moça vira na direção dele, apoiando mãos e quadril na pia – Devia imaginar que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. E eu até disse que iriam nos caçar quando soubessem do seu novo emprego, como o meu segurança, mas pelo visto, estavam nos observando desde o aniversário da sua irmã.
- Fotografaram Nunnally, Suzaku e Euphemia também! – o motoqueiro continua sem prestar atenção, observando uma fotografia do trio na doceria antes de encarar a sua patroa – O quanto desta matéria você leu?
- Quase tudo na verdade. Quando começaram a fazer especulações sobre o motivo de você e seus amigos estarem envolvidos comigo, pensei em jogar a revista no lixo.
- MALDIÇÃO! – Lelouch esbraveja, atirando a revista longe e passando as mãos sobre o rosto e os cabelos – Já devem ter ido interrogá-los a esta hora!
- Talvez. – C.C. dá de ombros e cruza os braços – Pelo menos agora sabemos que a razão de não terem feito perguntas pessoalmente foi porque os jornalistas de fofocas estavam ocupados escavando o seu passado. Bem, apenas esclareça o mal-entendido.
- Você acha que é simples assim? Isso...! – antes que ele continue, a sobrancelha arqueada da ricaça o relembra da própria história dela – Oh, certo, já entendi. Tudo bem, você tem razão. Não adianta contar a verdade para pessoas estúpidas.
- Não. Elas não querem histórias sinceras, querem algo que possa ser vendido e explorado. – ouvindo isto, de repente uma ideia passa pela cabeça do segurança.
- Exatamente. Então vamos dar um motivo para falarem. C.C., case comigo!
- Como é? – os olhos da mulher se arregalam quando sua companhia se aproxima.
- As pessoas ainda não sabem o que aconteceu entre nós dois. De fato, parece que nem Rolo e os outros suspeitam daquela noite, mesmo eu tendo ficado para trás quando todos saíram da mansão a fim de comemorar o aniversário da Nunnally. Mas vão saber mais cedo ou mais tarde. Então, antes que isso aconteça por fofocas, vamos oficializar!
- Em outras palavras, você quer alimentar uma mentira pra esconder a verdade? E aplicar o golpe do baú em mim descaradamente?
- Não; desta vez nós seremos cúmplices um do outro. Case-se comigo e eu realizo seu desejo de ser amada. – surpresa, a jovem se distrai por um tempo observando a séria feição masculina em frente, pensando que o Lamperouge é inesperadamente másculo.
- Então, em troca de eu proteger a sua família, você vai me amar? – o motoqueiro desvia o olhar corado e abre a boca sem saber o que dizer, fazendo-a suspirar entre um sorriso ao ficar de costas para ele – Não sei se eu deveria confiar em você de novo.
- Espera, me escute! – Lelouch a segura pelos braços e, sentindo arrependimento, encosta a testa no seu ombro esquerdo – Eu não pude dizer isso apropriadamente antes, então... Eu sinto muito por tudo. Por favor, C.C... – ele sussurra – Casa comigo.
Continua...
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