segunda-feira, 26 de março de 2012
Cap. 5
Cap. 5
Brigas
- Ela sumiu? – uma voz firme e desesperada corre pelas campinas – Como assim?
- Foi o que você ouviu Korapaika. – Gene responde – A Katrina desapareceu!
- Quando nós acordamos esta manhã, eu fui dar o seu café na cama, como faço sempre, e ela não estava. – uma moça coradinha, de cabelos trançados, ruivos no tom claro, e com olhos esmeraldinos se aproxima, parecendo muito tímida com as suas mãos juntas – Talvez tenha se desesperado com a ideia de um novo ataque e resolveu agir por conta própria!
- E quem é você? – Leório se apressa em perguntar, deixando Liana emburrada.
- Esta é a Calista. É uma amiga de infância nossa, já que Gene e eu a conhecemos quando ela e Katrina ainda eram crianças. – Kelly responde – Mas pra onde acha que ela foi?
- Ontem à noite a Katrina parecia muito preocupada com nossas tradições e o nosso tipo de governo. Falava a toda hora que se não deixasse descendentes, gostaria de ver Kenan liderar a tribo com sabedoria e ao lado... – a mocinha pausa, parecendo ficar envergonhada e deixando a incerteza clara após abaixar a cabeça – Ao lado de alguém que o ajude a crescer.
- Ok... – Liana ergue uma sobrancelha com desconfiança, mas prefere não insistir nisso – E por acaso ela não estaria no jardim? Sempre está lá!
- Mas da última vez teve aquele ataque com a Aranha Armadeira. – Gon comenta – Eu é que não ia querer voltar lá!
- Tem razão... – Killua põe uma mão sobre o queixo e apoia o cotovelo sobre a outra mão – Levando em consideração que o Sedie Havre tá atrás dela, não tem muita chance da Katrina ter ido até a cidade. Por outro lado, eles são os assassinos da família dela... Talvez tenha chance de...
- Katrina não é vingativa! – Kenan surge de repente ao lado de Calista – A tribo está em alvoroço. Como ela é nossa líder e a virgem dos rituais de tradição, a sua presença é necessária!
- Oh amigo, tem certeza que não está usando essa conversa como desculpa pra negar que gosta dela? – todos olham para Leório transparecendo o choque – Que foi? Eu posso até parecer, mas de bobo só tenho a cara, viu? – põe as mãos nos bolsos da calça.
- Como se atreve? – Kenan se irrita – Eu me preocupo porque ela é minha prima!
- Você tem uma porção de primos Kenan. – Gene prossegue – Isso não justifica a atenção redobrada que você oferece à Katrina.
- É melhor não se meter nisso Gene, ou posso esquecer que meus pais te aceitaram entre a gente! – ela se encolhe atrás de Gon com um bico de criança e dá língua ao jovem, fazendo seus amigos rirem – Quanto a vocês, já nos trouxeram problemas demais! Agora que os assassinos e o líder do Genei Ryodan sabem da Katrina, a nossa única escolha é atacar!
- Esta não é a melhor opção Kenan! – Korapaika intervêm – Nós devemos é procurar pela Katrina agora! Eu já disse que o líder do Genei Ryodan está sozinho, mas não tenho certeza se o seu coração ficou livre da corrente que havia perfurado nele. Se for assim, significa duas coisas: ele pode usar o Nen novamente e que um dos membros do Sedie Havre consegue anular o poder. Mesmo se todos vocês armassem uma emboscada, não terão chance contra caçadores muito bem treinados e manipuladores de Nen! Eu imaginei que um conhecedor da localização da tribo está por trás disso no momento em que percebi o comportamento estranho das aranhas. Mesmo se os Karita invadissem seu território, elas não iriam sair do ninho para revidar picando os membros! O líder do Sedie Havre, o Okamoto, sabe controlar mesmo animais do porte daquela Armadeira gigante, então vocês seriam pegos facilmente. – Kenan solta um resmungo e morde o seu lábio inferior com visível irritação – Como o Killua disse, a Katrina pode mesmo ter ido atrás deles, e não por vingança, mas para resolver a situação por conta própria. Conhecendo-a, eu posso dizer que ela deve ter se sentido culpada pelo que está acontecendo...
- Você não passou tanto tempo com ela assim para saber como pensa!
- Kenan, fique calmo! – Calista segura seu ombro – Pode ser que a Katrina tenha mesmo ido atrás deles! Nós devemos nos unir para salva-la!
- Calista está certa meu filho! – a mãe de Kenan se aproxima ao lado do marido – A nossa eterna prioridade será para com a família principal, portanto, com Katrina. Não distraia a sua mente com assuntos desnecessários e equivocados.
- "Equivocados"? – o filho se irrita – Mãe! Eles chegaram aqui com a conversa de que seu desejo era nos ajudar sem pedir nada em troca, e ele – aponta à Korapaika – acabou atraindo os desgraçados que mataram os chefes! Por que o meu julgamento não é contado?
- Suas opiniões são válidas! – a mulher continua – Mas você está esquecendo que o jovem com olhos de gato salvou a vida de Katrina da aranha. – todos encaram o envergonhado loiro – E, além disso, se não fosse pela ajuda deles nós ainda estaríamos enclausurados na incapacidade de lutar apropriadamente contra um adversário do porte dos assassinos dos chefes. Portanto, o julgamento que está dando é injusto. – pausa – O que nós precisamos agora é traçar um plano, e apropriado ao momento!... – Kenan parece entrar em desespero.
- Mas se não salvarmos a Katrina logo, ela vai morrer! – o susto atinge a todos.
- O que disse? – Killua dá um passo à frente – O que quer dizer?
- A Katrina não vai morrer! – Gon indaga – Eles não vão mata-la antes de capturar todos vocês, e é isso que eles querem! Não podem mata-la antes disso...! – mesmo falando com firmeza, ele transparece no olhar baixo uma clara incerteza.
- Não é por isso que estamos preocupados. – Kelly fala quase sussurrando – Mesmo se os assassinos não fizerem nada contra ela, Katrina corre o risco de morrer. – a entristecida tribo os indica um indício de alguma coisa escondida.
- A Katrina... – Liana toma fôlego – Ela está doente. – o coração de Korapaika falha uma batida – As mulheres da primeira ramificação da família Karita, que remete à mãe de Katrina, a avó e por aí vai, tiveram uma grave doença... Pelo sangue misturado ao de estrangeiros, o nível de doenças na tribo aumentou muito nas últimas décadas! O corpo das descendentes na família principal foi ficando fraco conforme se passaram as gerações, e as mulheres começaram a sofrer desmaios quando se emocionavam demais. Isso é tão nocivo ao organismo que enfraquece ainda mais o corpo cansado, até levar a morte! – pausa, sentindo a tensão no clima – E Katrina tem a mesma doença, como descendente direta dos chefes.
- Ela sofreu desmaios umas vezes quando criança, nas horas em que via algum escorpião, o símbolo do Sedie Havre, e se lembrava do assassinato, mas depois parou! – Gene choraminga.
- Ainda assim, o corpo dela não aguenta tanta emoção de uma vez. – Kelly diz abraçada a Gene, buscando conforta-la, mesmo com igual nível de preocupação.
- Não podemos nos dar ao risco de perdê-la...! – o pai de Kenan comenta, pensando alto.
- Nós não vamos força-los a nada, mas gostaríamos de pedir a sua ajuda para resgatá-la.
- Mãe! – Kenan a repreende, mas paralisa ao ver a mulher olhá-lo autoritariamente.
- Para ser franca, eu não entendi porque você os impediu de continuar vindo aqui Kenan, se eles não fizeram nada de errado!... – a senhora põe as mãos na cintura e olha o marido – E se nossas regras não foram desrespeitadas, acho que não há problema em eles continuarem vindo e nos ajudando, certo? O meu voto é válido, não? Afinal, a minha opinião também conta muito!
- Claro! – o marido pigarreia com claro rubor nas bochechas pela derruba feminina – Está correto. Na verdade, nós estávamos em dívida com você – encara Korapaika – desde que veio até a tribo para nos alertar do esconderijo das aranhas na cordilheira e acabou salvando Katrina lá! Salvá-lo daqueles assassinos era o mínimo que podíamos fazer.
- Pai! – o homem olha o filho com o mesmo olhar que a esposa antes dera e ele se cala.
- Obrigado senhor, mas eu não tenho a intenção de continuar vindo se isso não agradar à Kenan. – Korapaika responde, cruzando o olhar com o rapaz de relance antes de voltar a olhá-lo – Mesmo assim, vou resgatar a Katrina. Porque eu quero! – frisa.
- E a Neon? – a voz de Kelly é de pouco caso, mas o interesse está na resposta.
- Não será um problema. – Korapaika sorri – Eu terminei com ela. – e cinco segundos de silêncio depois, só não absolutos pelo barulho do vento e alguns cochichos aqui e ali, o loiro ri.
- Fez o que? – Killua move a cabeça para o lado enquanto encara o amigo com surpresa e confusão – Sério? Por que não nos disse?
- Eu fiz isso hoje de manhã, antes de virmos para cá. Ela exigiu que não voltasse aqui, me dizendo coisas como "Não vou te perdoar!" e "Aquela garota fez sua cabeça!". Parece que ouve uma fuga de informação e Neon ficou sabendo que era pra tribo que nós vínhamos toda a tarde. – Gon e Killua olham para a esquerda um horizonte, aparentemente, interessante – Quando eu me demiti do emprego de segurança, ela pegou um táxi e foi para o aeroporto, cheia de orgulho. – ri de leve – Mas isso não importa agora... Quem vem comigo resgatar a Katrina?
- Demorou! – Killua levanta a mão sorrindo – Vamos dar um chute na bunda daqueles...!
- O que o Killua quer dizer é "Conte com a gente, Korapaika!"! – Gon tapa a boca dele.
De volta ao depósito da cidade, Kuroro e Okamoto entram novamente no antigo quarto de Korapaika. Ele deveria estar vazio, mas não está... Quando as duas sombras dão alguns passos no escuro, vêem o semblante de um rosto delicado, com a pele clara e ainda mais pálida desde a sua entrada, para logo depois focalizar a atenção nos olhos vermelhos intensos e assustados. Da fraca luz entrando pela janela e atravessando as árvores, Okamoto dá cinco passos.
O semblante do homem está sério, as mãos gélidas saem do bolso da jaqueta recém-posta e ele esbofeteia a bochecha direita da pessoa, que cai no chão de lado. Em seguida, ele se enfurece.
- Como se atreve a nos enganar? Sua vadia! Achou mesmo que ia conseguir fingir que é o "desgraçado da corrente"? – Kuroro coloca um braço na frente do irritadiço amigo.
- Acalme-se Okamoto! Você não vai conseguir nada descontando a sua raiva pela fuga do garoto nela. – o enfurecido homem suspira e recua dois passos, enquanto Kuroro se aproxima – Você é a garota de quem nós estávamos atrás, Katrina, não é? – a loira finalmente abre um dos seus olhos, ainda vermelhos, e percebe que está sobre a sombra de um galho seco preso à teia de aranha na janela, com o líder da cruz invertida a apenas alguns centímetros de distância de si – Diga-me, por que voltou? – ele retira as mãos de dentro do casaco e se abaixa para encará-la – Teve a chance de fugir com os seus amigos, mas preferiu ficar e se vestir como o "desgraçado da corrente" para tentar nos enganar. Por quê? – Katrina vira o rosto devagar para encarar, enfim, o responsável por toda dor de Korapaika, e quando o faz é com o corpo tremendo, mas um olhar firme e amargurado vindo à tona pela coloração rubra.
- O nome dele é Korapaika! – ela responde em tom baixo, mas sem hesitação – Se eu fosse com os outros, vocês continuariam nos perseguindo pra toda a vida, e eu não quero... – suspira – Eu não quero que ele continue ensandecido pelo ódio. – Kuroro faz uma cara de reflexão, mas Okamoto solta um riso ao virar o rosto para o lado – Eu sabia que não ia conseguir enganá-los, mas precisei cortar os cabelos e roubar as roupas do Korapaika do guarda-roupa dele pra passar pelas pessoas da cidade sem levantar suspeitas. Nunca tinha saído da tribo antes...
- Isso é mentira. – Katrina abaixa os olhos e Kuroro ergue-se – Nós estivemos observando todos vocês ao longo desses dias, e sabemos que já saiu da tribo mais de uma vez.
- Ou não foi você que veio aqui com seus amigos para levar o garoto com olhos de gato? – a pergunta de Okamoto, que não saiu em tom de questionamento, espanta a garota e ela levanta.
- Se sabiam que nós vínhamos resgatá-lo, por que não estavam aqui com os outros?
- Uma das coisas que você deve aprender sobre disputas, minha querida, é a ser paciente e aguardar o movimento do seu adversário. – Kuroro ergue um indicador com um sorriso – Além disso, nós não poderíamos prever o quanto você evolui utilizando Nen! Tínhamos que esperar e ver do que era capaz, mas, que surpresa, você não aprendeu nada! – ele ri com a cabeça baixa.
- Eu quero fazer uma proposta. – desta vez, a voz de Katrina sai arrastada, mas atrai sua atenção e a de Okamoto – Já que vocês só pegaram o Korapaika porque queriam a mim, podem... – suspira, fechando os olhos brevemente e voltando-os para a coloração normal do azul do céu – Podem me matar! – a voz da garota sai sem medo, apenas determinação – Em troca, por favor, deixem o Korapaika, minha família e meus amigos em paz!
Os líderes se entreolham seriamente, ambos com as mãos escondidas nas roupas. Katrina aguarda, pacientemente, por uma resposta refletida em silêncio pelos dois por alguns segundos, mas que para si leva uma semana. As mãos da loira ficam suadas e o corpo volta a tremer. Seus olhos querem voltar à cor vermelha, porém, Katrina aguenta firme para não transparecer o seu receio. Ela não tem medo da morte, mas de morrer sem poder fazer nada pelos que ama.
- Não pode se repetir de novo... – sussurra com os olhos fechados.
- O que disse? – Kuroro se volta a ela com a mão no queixo.
- Nada! – a moça abre os olhos rapidamente e fica surpresa ao diagnosticar um interesse quase infantil nos olhos dos dois homens sobre si – É... Já decidiram?
- Bem... – Okamoto começa – Não acha injusto nós termos apenas você, quando podíamos lucrar muito mais capturando os outros? Eles vêm resgatá-la. – para uma nova surpresa dela, a entonação dele não sugere zombaria e seu semblante está tão sério quanto o de Kuroro, embora este esteja tapando a boca por algum motivo.
- Talvez Kelly e Gene venham sem se importar em traçar planos de resgate, se Liana não conseguir impedi-las, mas duvido que algum dos outros venha...!
- E nós podemos saber por que acha isso? – Okamoto volta a perguntar, surpreendendo a moça pelo diálogo ser tão longo com dois ladrões de mãos sujas de sangue.
- Embora eu tenha vindo sem pensar muito, os membros da tribo não costumam sair dela. – ela procura a cama atrás de si e senta nela – Além disso, eu já causei muitos problemas para o Korapaika e seus amigos, talvez ainda mais pra ele!... – suspira.
- Entendi... – Kuroro de repente levanta o indicador novamente, olhando para o teto – E se isso for mesmo verdade Okamoto, eu acho que não seria muito vantajoso para nós mata-la!
- Do que diabo está falando Kuroro? – o da cruz invertida volta-se ao encostado na parede.
- Agora que eu me lembrei, existem boatos sobre a tribo Karita. – ele continua com o dedo levantando – As mulheres da linhagem de liderança, ou a chamada "primeira família", têm um tipo de doença estranha. Parece que pela tribo ter um sangue muito misturado com o de alguns estrangeiros, o corpo delas foi ficando fraco a cada geração e começaram a morrer muito cedo. A tribo ficou escondida de todos nesta região depois da primeira morte por essa doença.
- E o que isso tem a ver com o assassinato dela?
- Pense bem: se não a matarmos agora, por ela ser a última descendente na chefia da tribo, eles fariam o que nós quiséssemos para tê-la de volta! E se existir um jeito de curar tal doença, pra conseguir essa informação, também ficariam a nossa mercê!... Não acha que nós podíamos lucrar bem mais mantendo essa garota conosco? Matá-la agora só causará uma revolta e algum dinheiro com a venda de olhos vermelhos. – Okamoto a encara e Kuroro logo em seguida.
- Ela tem uma boca muito bonita. – o dono dos olhos ametista sorri de forma pervertida, o que deixa Katrina encabulada – Se dependesse de mim, eu a venderia no mercado negro, mas já que você é meu parceiro e ainda não conseguimos o "desgraçado da corrente", vou respeitar sua opinião... Quando quer invadir a tribo? – os olhos da loira voltam a ficar rubros – Tenha calma! – ele ri – Nós vamos fazer uma negociação com eles e com o seu namorado.
- Namorado? – o tom dos olhos de Katrina retorna ao azul e suas bochechas se tingem de rosa – Mas que namorado? Eu não...
- O "desgraçado da corrente" não é o seu namorado? – Kuroro ergue uma sobrancelha.
Antes que a resposta seja dada, um som de homens sendo derrubados com vigor no chão e contra a porta chama a atenção dos três. Sem se importar com uma possível fuga de Katrina, os líderes saem e se surpreendem com a visita parada na entrada do depósito: é um velho e dois homens ao lado de uma estranha mulher com chapéu extravagante.
- Você é a menina Katrina, não é mesmo? – o homem com cabelos prateados pergunta à Katrina, observando da porta de sua sala de confinamento.
- Quem quer saber? – devolve nervosa, mas contente por sair de perto dos líderes.
De repente, junto ao primeiro grupo, um novo surge: uma mulher de cabelo preso e com um longo vestido prendado, um senhor de cabelos até os ombros, uma senhora baixa e pouco curvada, sem tantos cabelos brancos, e um casal de crianças. A mulher parece nervosa e dá dois passos a frente, focalizando Katrina com olhos ferozes e ansiosos.
- Onde está nossa filha? Diga! – ela grita.
- Não sei do que estão falando! – Katrina grita de volta.
- Tenha calma querida, não precisa se estressar! – o homem ao seu lado, claramente o seu marido, tenta acalmá-la.
- Encontrar a garota com olhos de gato não vai garantir o paradeiro da nossa Kelly! – ela devolve, assustando Katrina consideravelmente.
- São os pais... São pais da Kelly? – a voz dela quase não sai.
- Sim, e eu sou a avó dela! – a idosa responde – Mas este assunto pode ser resolvido mais tarde, minha filha. – a mulher com vestido prendado suspira irritada.
- Oh, Killua é tão desobediente! Se tivesse ficado em casa, nada disso estaria acontecendo!
- Você o protege demais minha querida. – o pai do menino diz à mãe dele muito sério.
- E você se preocupa de menos, dando tanta liberdade assim a ele! – ela devolve, abanando seu leque rendado e de várias cores sem encará-lo.
- Vocês são os assassinos profissionais, Zaoldyeck, não é? – Okamoto observa a família e vira o rosto para a outra antes de obter uma confirmação – E vocês caçadores de Lista Negra, os Nikoro. Correto? – todos eles sorriem; a dita confirmação desnecessária.
- Meu neto, Killua, nos mandou até aqui para salvar a garota. – o óbvio avô dele sorri de mãos juntas atrás das costas – Essa é a condição para que ele volte pra casa. E ao que parece, a pequena Kelly Nikoro, de quem tanto ouvimos falar sobre o desaparecimento, está envolvida no pedido de resgate também, muito embora não tenhamos sabido nada além de que os dois estão a alguns metros de distância agora, na sua tribo, então você vem conosco!
- Ah sim, eu já lutei contra aquele senhor e o vovô. – Kuroro comenta sorrindo sobre o pai e o avô de Killua, fazendo o idoso sorrir brevemente.
- Em uma pergunta, hipotética, é claro, o que fariam se não devolvêssemos? – Okamoto se atreve a perguntar, também sorrindo.
Antes que a situação piore, um uivo atrai a atenção de todos. Bosom está atrás dos Nikoro e dos Zaoldyeck, à frente da sua alcateia e do grupo de linces. Junto deles, um loiro enfezado.
- Korapaika! – Katrina grita com visível desespero, mas ele não se altera.
- Que ótimo, é mais um idiota para liquidarmos! O que fazemos líder? – um dos membros olha para Okamoto e ele dá dois passos a frente.
- Olhe só... Por que não nos deixam ficar com aquela garota e terminamos logo com isso? – sugere – Ela nem sequer é responsabilidade de vocês! – os lobos e linces continuam rosnando.
- Acho que devemos recusar a oferta. – diz a avó da Kelly, sorrindo.
Sem que percebam, o pequeno Nikoro joga uma bomba de gás pro alto rapidamente e tudo fica nublado. No mesmo instante, Katrina é puxada para perto das famílias em seu resgate e, ao mesmo tempo, Korapaika consegue capturar Kuroro e Okamoto com a sua corrente. Por uma pequena brecha, porém, um dos membros do Sedie Havre consegue pegá-la das mãos do irmão de Kelly. Quando a fumaça se dissipa, Korapaika entra em pânico ao vê-la aprisionada.
- Se fizer alguma coisa com ela, eu juro que vou matar os dois! – quase grita entre dentes para o homem que a segura pelos pulsos atrás das costas, mais perto da saída – Solte-a!
- Korapaika, não... – Katrina é interrompida.
- Por que ela é tão importante para você? – Okamoto questiona curioso e todos ficam em silêncio, mas Korapaika o aperta mais entre a corrente.
- Cala a boca, seu miserável! – seus olhos ficam vermelhos.
- Ele vai fazer uma besteira!... – Katrina sussurra – Korapaika, não faz isso!
- Eu só vou ordenar esta vez: SOLTE-A, AGORA! – ele grita com voz firme, ignorando o pedido da garota e deixando-a ainda mais nervosa – Anda logo, ou eu mato os dois!
- Você fica nervoso facilmente quando o assunto é ela, não é? – Okamoto ri.
- Como ainda tem coragem de brincar com a situação quando está prestes a morrer?
- A morte não tem sentido nenhum pra mim, e foi por isto que Kuroro e eu nos juntamos.
- E sabem quanto sofrimento vocês nos causaram? – o loiro o soca no rosto.
- Korapaika, fica calmo! – pede Katrina – Eles querem te provocar, me escuta!...
- Não importa o que aconteça aqui – ele soca Kuroro e o faz sangrar -, eu vou matar...!
- CHEGA! – a loira grita; todo o ar que tem nos pulmões parece preencher seu corpo e as evidentes lágrimas nos olhos quando ergue a cabeça devagar surpreendem até os assassinos em volta – Korapaika, já chega!... – ela tenta sorrir, fazendo-o abaixar seu braço levantado e virar o rosto manchado de sangue para si – Por favor!...
- Mas... Katrina... – a moça balança a cabeça negativamente e põe o corpo em linha reta.
- Escute bem: se você matar qualquer um deles, EU acabo com você! – todos se chocam com suas palavras, tanto que o homem a segurando solta seus pulsos devagar e ela, livre, dá dois passos para frente sem desviar o olhar de Korapaika – Eu juro que acabo com você! Solte-os!
É neste momento que um cheiro familiar de rosas vermelhas rodeia a todos. Rapidamente, o irmão mais velho de Killua pega Katrina nos braços e, com o acenar de cabeça da avó de Kelly, Korapaika solta os prisioneiros, prendendo a respiração e se misturando às famílias enquanto o odor bom retira os sentidos do Sedie Havre e Kuroro. Durante a fuga a pé e em alta velocidade, o loiro vê pelo canto dos olhos a pequena Nikoro carregando um frasco com pólen e sorri.
- Onde conseguiu isso? – a menina o encara, olha para o frasco e sorri.
- Uma tia amiga de vocês disse que nós devíamos usar isso pra fugir, que ia dar conta de derrubar todos eles de uma única vez sem muito esforço.
- Ela pediu pra virem? – estranha – Mas vocês disseram que foi um pedido do Killua!
- Você não sabe de nada? – o garotinho da mesma família surge ao lado da menina com o sorriso de deboche – Que tipo de amigo você é?
- Eu saí da tribo antes dele e do Gon me contarem o que iam fazer. – Korapaika responde emburrado, respirando devagar para continuar correndo.
- Não precisa se irritar! – o menino ri – Na verdade, foi essa tia e outro velho que foram nos procurar e avisar sobre a Kelly e esse tal Killua. Os dois nos reuniram à família Zaoldyeck e deram a mensagem. – um minuto de silêncio e perto da tribo eles continuam a conversa.
- Vocês são quem? – as crianças o encaram sorrindo.
- Eu sou Mesuro, e este aqui é o Soei. Somos os irmãos da Kelly.
Mesuro tem longos cabelos castanhos como os da dona Nikoro, mas tanto seus olhos como os de Soei, e os cabelos curtos dele também, são da mesma cor dos de Kelly. A garota tem treze anos e, apesar da aparência doce, é tão nervosa quanto sua irmã, cuidando sempre da segurança de Soei, que por sua vez é um menino de doze anos estressado quando perturbado, mas em geral gentil e curioso e que adora brincar. As famílias entram na tribo sem muita cerimônia.
Os amigos estão à espera com os Karita e os animais e ficam aliviados quando os vêem vir. Katrina é "estacionada" de mau jeito no chão pelo irmão de Killua, soltando um muxoxo, mas a alegria toma conta do seu ser novamente quando vê sua família vir abraça-la. Porém, nem todo mundo está presente no reencontro... Kelly e Killua estão na cabana dela, mas os dois logo saem com o alvoroço e chegam por trás dos membros contentes da tribo, assim como Korapaika.
- Katrina! – Gene a abraça junto à Liana – Graças a Deus você está a salvo!
- Nós não paramos de rezar desde que você fugiu! – a curandeira segura seus ombros e a olha nos olhos – Nunca mais faça isso de novo!
- Está bem Li, eu prometo! – Katrina ri e é a vez de Gon e Killua receberem o abraço com calor – Eu pensei que não fosse mais vê-los!
- É, é, ok, nós sentimos a sua falta! – Killua fala, tentando se soltar do abraço.
- Ele diz isso, mas ficou muito nervoso! – Gon o dedura e recebe um soco na cabeça.
- Que bom Katrina! – Leório a abraça e ela retribui, sorrindo os dois – Você nos assustou!
- Desculpe por isso. – ela sorri para Kenan e Calista e então se volta para Kelly.
- Katrina, tudo bem? – ela gela ao ter a visão da família diante dos olhos e engole em seco, suando frio antes mesmo de receber uma resposta.
- Viemos buscar a Kelly. Cadê ela? – Mesuro questiona grossamente, atraindo os olhares.
- Quem são esses aí? – Killua corta o clima tenso – Ah, oi gente!
- Killua, meu filho, mas é só isso que tem a nos dizer depois de tanto tempo sem nos ver?
- Se você não me sufocasse tanto eu não passaria tanto tempo longe de casa mãe!
- Killua, eu acho melhor você obedecer e voltar pra casa. Está deixando a mamãe triste.
- Você não manda em mim Illumi! – Kelly sai detrás dele e vira de lado.
- Então esse é o Illumi? Podia ter dito que era o seu irmão.
- Você não gostou de saber que eu era um assassino. – ele sussurra com um bico – Por que ia querer conhecer a minha família? – ela torce o nariz.
- Oh, minha filhinha, venha com a sua mãe!
- Mãe? – Gon estranha e todos olham para a assustada Kelly, que encolhe os ombros, põe as mãos sobre o peito e anda para trás de Killua novamente com uma cara feia – Ela é a sua mãe?
- Fique longe de mim! – Kelly grita – Eu só pedi para resgatar a Katrina porque não dava para fazer mais nada, mas não vou pra casa!
- Obedeça a sua mãe Kelly! – insiste o pai da garota, com uma voz mais passiva que fria.
- Espera um pouco!... – Killua o interrompe e espanta a todos – Estão assustando ela! – o choque das palavras dele emudece todo mundo.
- Como se atreve? Saia do caminho! – grita o magrinho Soei, mas Killua nem se move.
- Obedeça Killua e vamos pra casa! – o pai dele grita.
- Não pai! – com ele, o garoto parece temer a negação – Ela não quer ir!
Mesuro retira uma flauta prateada do bolso do short preto e toca. Dois lobos cinzentos se apresentam vindos da floresta, ficando à frente dos irmãos de Kelly e encarando Bosom frente a frente, junto à alcateia, com rosnados ameaçadores.
- Saia de perto dela! – Mesuro ameaça.
- E se eu não quiser sair? – Killua insiste sério.
- Killua, você não sabe com quem está lidando! – Kelly se aterroriza com a tensão.
- Eu não me intimido fácil. – sorri – Ela não vai com vocês se não quiser! – grita.
O clima tenso se instala novamente. Quando o pai de Kelly ameaça andar até ela, Katrina, os Karita e o restante dos amigos se agrupam mais perto da garota e de Killua, deixando clara a sua proteção. A ação surpreende as mães das crianças, enquanto que os pais se entreolham e os pequenos Nikoro e Illumi observam a cena com inquietação. A mãe de Kelly se aborrece.
- Soei, pegue a Kelly! – o menino passa por Killua sem ele nem perceber, corta seu rosto e segura a irmã pelo pulso com força, só não conseguindo chegar à família porque Bosom impede.
- Um bicho de estimação? Ora!... A Kelly parece que se virou muito bem sem a gente por perto pai! – comenta Mesuro com graça, sem encarar o homem apreensivo.
Quando Bosom salta para atacar Soei, os lobos dos irmãos pulam sobre ela e iniciam uma briga feia. Kelly grita pela loba o tempo todo, desesperada com seus ganidos entre as mordidas. Após três minutos, que parecem três anos de nervosismo, Soei toma a flauta das mãos da irmã e toca, chamando os lobos para o seu lado e afagando suas cabeças. Kelly corre para ver Bosom. A loba está bem ferida, mas continua de pé dignamente. Killua se junta as duas e acaricia a fêmea.
- Está bem Kelly, você pode ficar aqui por hoje! Amanhã nós retornaremos.
- Obrigada vovó. – a menina sorri e abraça Bosom pelo pescoço, enquanto o grupo se vai.
Continua...
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