A Dona do Pedaço

Feeds RSS
Feeds RSS

sábado, 24 de outubro de 2009

Cap. 4

Cap. 4
Obrigação ou Diversão


- Kelly, olá minha filha. – o meu pai é o primeiro a me abraçar, seguidamente minha mãe.
- Mãe, pai...! – cumprimento-os – Como vão?
- Você parece estar bem, minha filha.
- Sim pai, eu estou me saindo ótima aqui.
- Estaria melhor se estivesse em casa, na segurança do lar com a sua família!
- Ah querida, por favor, tenha calma!...

Ter minha família encima de mim sempre me acostumou desde criança a não ser muito exigente com minhas ambições, principalmente se envolviam liberdade. Vovó é a mais liberal de todos, mimando mais a mim do que aos meus invejosos irmãos mais novos, mas nem assim minha coragem aumenta!

O receio de enfrentar meus pais sempre foi maior do que o de não ser feliz por viver só de obedecer as suas ordens. O que pude fazer quando ouvi o som do carro do papai e os vi entrando na casa foi respirar profundamente e ficar feito uma estátua na sala vendo Gene e os outros nos servindo.

A sugestão de Katrina antes que eles chegassem foi de que o Killua não se levantasse do sofá comigo para fazer nada e apenas negasse aos meus pais qualquer hipótese de que não estivesse sendo tratada como uma rainha. Até a simples idéia de que esteja trabalhando para me sustentar os mataria!

- Então... Por que a vovó, o Soei e a Mesuro não vieram?
- Oh, a sua avó ficou muito doente e seus irmãos ficaram cuidando dela enquanto vínhamos aqui.
- Mas pai, se ela está passando mal deveriam ficar...
- Bobagem! – ele me corta alterando o tom de voz – Se não viéssemos aí sim ela ficaria pior, sem saber como está.
- É claro... – encolho-me no sofá.

Killua vez ou outra olha para mim, mas não abriu a boca uma única vez e nem parece incomodado com a conversa como Katrina, que está passando a maior parte do seu tempo oferecendo petiscos feitos pelo Korapaika e o Leório, que estão trabalhando rapidamente na cozinha, junto do Gon.

Gene e Liana observam de longe, preparando a mesa na sala de jantar logo ao lado para o almoço. Mamãe parece ainda estar mais pálida do que da última vez que a vi em Tive, provavelmente outro drama para me levar de volta...!

- Kelly, eu espero que você esteja se alimentando direito.
- Mas é claro mãe, todos são muito bons comigo!
- E você Killua? Seus pais não se incomodam por estar tão longe de casa? – papai o encara e eu faço o mesmo.
- Ah não, os meus pais não se importam!
- Quer dizer que eles não se preocupam com o que possa lhe acontecer? – pelo tom do pai e minha cara feia, Killua larga os biscoitos e, de uma leve tossida, corrige o que disse.
- Bom, eu não quis dizer isso... É que eles confiam em mim e por isso me deixam fazer o que eu quero. É isso!
- Oh querido, você não acha que Killua é forte? – mamãe começa a se derreter, largando a xícara de chá.
- Claro. – somos chamados para sentar e comer. Quando estamos começando a refeição, o papai continua – Diga-me Killua, sua casa é de que tamanho?
- Somos donos de uma montanha. – responde. Fora os garotos, que já estão ajudando as meninas a por a comida na mesa, todos o encaram, e perplexos!... Mas com meus pais é por pouco tempo.
- Uma montanha você disse? – papai ri.
- É sim, por quê? – a cara de idiota dele começa a me irritar, mesmo que esteja tentando me manter calma.
- E quantos empregados trabalham para sua família? – meu pai continua perguntando, bem animado.
- Acho que uns dez, é um pouco difícil lembrar agora...
- Você tem algum cão de guarda? – os outros sentam.
- Tenho, o nome dele é Mike, mas por que quer saber?
- Oh sim, desculpe, mas é que eu fiquei bastante surpreso pela semelhança que sua família tem com a nossa.
- Semelhança? – bato na testa discretamente. Posso ver pelo canto do olho Leório e Liana se entreolhando e o resto fingindo não estar prestando atenção na conversa.
- É que também somos muito ricos. – limito a explicação.
- Sério? – ele sorri – Então me diz como é o portão da casa de vocês? – mal ele termina de perguntar, meu garfo cai no prato e só minha expressão conta meus pensamentos.

A conversa se estende por todo o almoço, e, talvez, o meu medo de que Killua diga alguma besteira, ou mais pela raiva de ouvi-lo incentivar meus pais a continuarem falando, sem lembrar que não estou nem um pouco a vontade com tudo, me mantém acordada até a sobremesa.

- Nós temos vários animais em casa, você e seus irmãos iriam adorar! – mamãe o mima como nunca fez comigo.
- Eu sei, aqueles lobos eram muito bonitos.
- Kelly, tudo bem com você? – Katrina se arrasta na cadeira para sussurrar no meu ouvido.
- Eu não acredito que fiz com que ele tivesse um motivo para manter os meus pais aqui! – falo entre os dentes.
- Pelo menos eles gostaram do Killua, não é?
- Isso eu já sabia há muito tempo, Katrina! E eles estão tratando ele como se fosse outro irmão meu!... – suspiro.
- Ah querido Killua, adoraríamos conhecer mais a sua família! E até já sei como: por que não os chama para visitar nossa casa amanhã? – a sala toda fica muda.
- Sério? Eu... – enquanto Gene e todo mundo retira a mesa, agarro a cabeça do Killua e tapo sua boca.
- Mãe, é uma péssima idéia! Os pais do Killua são tão ocupados, e a vovó vai precisar descansar!
- Ora querida, bobagem; a sua avó se cura rápido!
- É pai, mas não era seu dia de caçar com o Soei?
- Não, acho que era só na próxima semana!
- Tem certeza? Acho que ele me disse que era hoje...
- Kelly, você parece não querer que o Killua e a sua família nos visitem.
- O quê? – solto o Killua – Não, claro que não mãe!
- Então não pense mais nisto. – ela abre um sorriso, mas um como os outros, um sorriso de ordem.
- Sim... Tudo bem. – abaixo a cabeça.
- Está tudo bem para você Killua? – ele me encara antes de virar para meu pai e responder.
- Eu... Eu vou falar com meus pais. Mas eu acho que não tem problema. – meus pais se levantam.
- Ótimo, estaremos esperando! Até mais Killua. – mamãe o abraça e depois a mim. Antes de irem, papai se vira.
- Kelly, pode levar seus amigos também, mas se acontecer qualquer coisa amanhã, você não vai sair daquela casa. Eu fui claro? – olha direto nos meus olhos, e um olhar igual a todos, cheio de autoridade.
- Sim... Sim pai, foi! Não vai acontecer nada.

Ele passa a mão sobre minha cabeça antes de sair. Quando o carro já está longe da nossa visão a Liana fecha a porta e todo mundo se volta para mim. Killua se aproxima por trás, e parece ter entendido o que fez.

- Kelly, eu... – antes que ele diga algo, jogo o objeto mais perto de mim que consigo avistar em sua cabeça.
- SEU IDIOTA! – grito antes de correr para o quarto.

Meu choro não é uma coisa fácil de ser evitada. Sou muito frágil, mesmo não parecendo, e nunca consegui nem na minha avó uma pessoa para me confortar nos momentos tristes. Só quem consegue me fazer parar é a que entra no quarto depois de ter corrido atrás de mim.

- Kelly, não chora! Eu sei que o Killua não fez por mal.
- Mas Gene, eu não estou chorando por causa dele... – abraço-a – Estou com medo dos meus pais me levarem embora, que me tirem de perto de você e de todo mundo.
- Tudo bem... Não vai acontecer nada; foi você mesma quem disse isto, certo? – ela sorri – Fica calma.
- Eu só queria me divertir como todo mundo...
- Eu sei... E a sua raiva por caçadores sempre foi só um pretexto para ninguém descobrir que você não gosta mesmo é de assassinos que caçam como a sua família, não é?
- Talvez... E aquele idiota do Killua é um deles.
- É, mas você não ficou amiga dele depois de conhecê-lo?
- Não tem nada a ver! – suspiro e limpo as lágrimas – Ele ainda é um assassino, e eu também... Isso nós nunca vamos poder mudar, por mais que eu queira ser uma garota normal!

Continua...

0 comentários:

Postar um comentário