quinta-feira, 10 de maio de 2012
Salgado, Azedo e Quente
Cap. 2
Salgado, Azedo e Quente
- E o que deveria ser isso? – a enfurecida C.C. questiona, prestes a esganar um.
- Uma pizza doce. – e este “um” pode ser Lelouch.
Neste ponto da história, a rica moça acaba de receber uma, já mencionada, pizza doce do rapaz, que anteriormente, além de pedir ao chefe para continuar entregando na mansão, teve a ideia de sugerir uma combinação doce e salgada para oferecer a ela. Não que já não houvessem combinações do tipo na pizzaria, contudo, nunca foi do interesse da cliente VIP pedir algo do tipo. Obviamente, ele suspeitava que não iria agrada-la.
E foi com um sorriso no rosto, do tipo perverso, que o rapaz se deslocou até aqui sem relatar a alguém que não é mais bem-vindo, e pediu cordialmente que a empregada Shirley o deixasse fazer uma nova tentativa de abordagem à patroa. Tendo conseguido, através de gritos e desvios, impedir que a governanta Milly pegasse a caixa de sua mão e atrair C.C. até a porta para receber a entrega pessoalmente, agora Lelouch se vangloria.
- Você só pode estar brincando com a minha cara! – ela faz careta para a massa.
- Mas não. É uma recomendação minha. Não prefere provar antes de julgar?
- Não vou comer essa porcaria! E qual é a sua trazendo isso na minha casa?!
- Sou seu entregador oficial a partir de agora. – ele mantém o sorriso ao fechar a caixa de pizza nas mãos e a ouvinte ri.
- Ficou louco? Eu pensei ter dito que se voltasse iria te mandar para o olho da rua!
- Não, você só disse que iria parar de comprar na nossa pizzaria, o que acho ser um desperdício e mentira sua.
- Como é? Quem pensa que é? Não me interessa o que você acha! Dê o fora daqui!
- Mas se você não aceitar a pizza, eu vou cobrar assim mesmo.
- Está querendo ganhar às minhas custas? Não vou pagar por algo que não comi!
- E o custo da gasolina e a taxa de entrega? Eu tenho que comer, sabia?!
- Nunca imaginei nem que se alimentasse! – a moça debocha, fazendo-o franzir o cenho, quando nota Shirley espiando a discussão o mais discretamente que consegue, fingindo arrancar ervas daninhas, então o puxa pelo punho para dentro e fecha a porta.
- Ei, que história é essa?! O que está fazendo? – sem responder ao aborrecimento dele, ela simplesmente pega a caixa das suas mãos e abre, tirando um pedaço de pizza e olhando feio para a calda de chocolate – Ah, resolveu provar?!... – ele sorri vitorioso – Não quer que mais alguém veja?
- Cale a boca! Se não for bom, eu te escorraço para rua na mesma hora! – o rapaz ergue as mãos em sinal de rendição e a jovem suspira resignada.
- Que drama... Prove logo! Eu tenho horário!
Certificando-se de novo de que ninguém verá o que está para fazer, C.C. morde um pequeno pedaço do alimento de olhos fechados. Para sua surpresa, o gosto não é tão terrível assim. Mas, sem mais nem menos, ela larga o pedaço de volta na caixa, fecha e dá para Lelouch com raiva. Ele a fita com estranheza enquanto pega seu braço e abre a porta, jogando-o para fora e entregando uma única nota de dinheiro.
- Nunca mais traga essa porcaria para mim de novo! Eu quero pizzas salgadas!
- Uma surpresa, considerando que você é azeda. – o jovem sussurra curvado perto dela, com um sorriso nos lábios.
- Dê o fora daqui! – a senhorita bate a porta, mas o entregador apenas ri.
Após se despedir de Shirley, ele volta à pizzariae estaciona a moto do comércio perto da entrada, como sempre. Antes da próxima entrega, resolve levar a pizza rejeitada para a sala dos funcionários, e ali abre a caixa. O Lamperouge mastiga o mesmo pedaço que sua cliente comeu e alarga o sorriso, jogando o resto no lixo. O desperdício parece ter sido um sacrifício necessário para seu plano de se manter como entregador pessoal.
De fato, semanas depois, entregando ao menos duas pizzaspor semana para C.C., é visível que houveram mudanças no cenário, aparentemente comum, da vida da ricaça. Para começar, seu prazer de provar diferentes sabores da sua refeição favorita agora lhe causa nervosismo, sendo que é estimulado por um mirrado motoboy sádico que desperta a sua impaciência ao esperar a entrega. Ele consegue convencê-la a experimentar tudo que traz, por mais que não goste à primeira vista, e sabe que não adiantará expulsa-lo.
Agora ela está sentada em um banco da imunda biblioteca da mansão. Tem livros espalhados no chão, caixas de pizza e copos sujos de refrigerante sobre a mesa, perto de sua pelúcia em forma de queijo, batizado de Cheese, e meias e botas sujas suas jogadas pelos cantos. A moça segura na mão direita o último pedaço de pizza da última entrega, há dois dias. Toda a calabresa parece lutar contra o queijo derretido para não cair.
É então que identifica o ruído da moto de Lelouch e desencosta da almofada nas suas costas para olhar pela janela. Shirley está conversando com ele, e os dois parecem rir de algo. Uma cena que se tornou, aparentemente, comum. Um tanto aborrecida, C.C. larga a massa requentada na caixa e desce as escadas, indo ao jardim como um furacão. Ela passa voando pelos criados e abre a porta violentamente, pisando duro até a dupla.
Mais do que rápido, a empregada assustada se afasta dois passos.
- Eu não te mandei vir hoje. – ela cruza os braços, ignorando o olhar acurado dele, de baixo para cima, sobre o seu conjunto branco de botas over, short e cropped suplex.
- Eu sei. Vim trazer o pagamento do mês da sua prima. Todos receberam o salário hoje e ela não quis arriscar ficar com o dinheiro na pizzaria. – o rapaz explica, retirando um envelope de dentro do bolso da calça e estendendo à destinatária.
O Lamperouge fita a estática dona da casa com uma sobrancelha arqueada, e a sua confusão se transforma em surpresa quando, de repente, é agarrado pela nuca e recebe um beijo sem aviso prévio. Enquanto ele pensa como deve reagir, C.C. encara Shirley com o canto dos olhos, e esta se retira do local um tanto nervosa. Finalmente, a ricaça solta seu capturado e passa o polegar direito sobre o lábio inferior, limpando-o.
- Que diabo foi isso?! – o jovem questiona corado – Por que você...?
- Não fique aborrecido. – a moça toma o envelope de sua mão, batendo de leve no ombro com ele – Lembre-se que você é meu entregador, portanto, não fique de bobeira!
Imperialista, ela o deixa travado na trilha de tijolos enquanto se retira para dentro, passando por um criado baixinho parado na entrada que fecha a porta após se curvar em cumprimento à Lelouch. Quando o entregador retorna ao ambiente de trabalho, caminha direto para a sala dos funcionários, sendo seguido por Kallen.
- Ei. – a garçonete chama sua atenção da porta, vendo-o, do banheiro aberto, jogar um pouco d’água no rosto – Aconteceu alguma coisa?
- Não. – ele responde puxando o ar e se enxugando com uma toalha antes de sair.
- Aconteceu sim. Você foi capturado, não é?! Ai, eu te avisei para ficar longe dela!
- O que quer dizer? – o motoboy abre seu armário, aparentando desinteresse.
- Como você acha que todos os antigos entregadores da C.C. acabaram?
- Eles foram despedidos ou se demitiram? – o rapaz responde, revirando algumas coisas para, claramente, evitar a conversa.
- Ela os seduziu e depois usou a influência para manda-los embora. – comunica a universitária, então finalmente seu colega para o que está fazendo e a fita.
- Está me falando que C.C. tem o hobby de seduzir e demitir entregadores de pizza?
- Pelo menos foi assim que terminou a maioria. A mídia fofoca muito sobre isso, e, segundo eu ouvi, tudo começou com o primeiro entregador que trabalhou pra ela, desde que passou a pedir comida daqui. Eu ainda não trabalhava neste lugar, portanto não tem como confirmar. Na verdade, ninguém tem como confirmar. O cara desapareceu depois de algumas entregas, e logo em seguida os boatos iniciaram.
- Isso é inusitado... Ela disse que não gosta de gente estranha na sua casa.
- Deve ser conversa. Eu sei como a C.C. é; moramos juntas. Ela é uma bruxa; só que, para o meu contentamento, também cobra uma hospedagem barata.
- Bem, sendo uma bruxa ou não, eu não tenho a intenção de entrar nessa lista.
- Espero que não. O chefe vai pirar se tiver que fazer mais entrevistas de emprego!
Dito isso, Kallen se retira e deixa o jovem refletindo um pouco. Antes a intenção de Lelouch era mostrar que não cederia às provocações de C.C., e despertar o interesse dela mostrando eficiência com dicas de novos sabores de pizza, mas agora a situação mudou. Será preciso arrumar um jeito de se manter no emprego e longe dela ao mesmo tempo. Mas como agradá-la de modo a não se deixar cair em seus truques?
Claro, alguém como ele nunca se deixaria cair nos encantos da moça de qualquer forma! “Mesmo assim, talvez Suzaku saiba como ajudar”, o Lamperouge pensa. Assim, mais tarde, o entregador vai até a doceria do amigo e deixa sua moto no estacionamento. Depois de falar com Euphemia e Nunnally, o jovem pede para conversar com Suzaku nos fundos da loja outra vez.
- Qual é o problema agora? – eles sentam nas cadeiras de sempre – C.C. de novo?
- Sim. Agora eu acho que estou encurralado, e preciso da sua ajuda.
- Diz o que aconteceu. Quem sabe eu possa ajudar.
- A Kallen, minha colega de trabalho e prima da C.C., me contou que ela gosta de seduzir seus entregadores para depois convencer o chefe a demiti-los.
- Sei... “Ela”, a C.C.? – o amigo faz uma expressão de óbvio em resposta – Ok.
- Não estou afim de ser o próximo. O que acha que devo fazer?
- Bom, você mesmo pediu por isso. – Lelouch suspira, chateado com a repreensão – Mas não dá para entender o porquê de antes ela ter exigido que se mantivesse longe, se pretendia te usar. Fazer um aviso prévio não deve ser parte de uma brincadeira dessas.
- Eu também achei esta história estranha, mas pelo que contam por aí, o primeiro entregador que foi à casa dela nunca mais foi visto.
- Que sinistro! Simplesmente sumiu, assim, do nada? – o entregador afirma com a cabeça – Uau!... Pode ter sido uma coincidência. O cara deve ter se mudado, sei lá.
- Quem sabe... O fato é que a pizzaria tem um histórico de demissões com todos os empregados que estavam à serviço exclusivo dela.
- Bem, por acaso a C.C. tentou alguma coisa com você até agora? – de repente o Lamperouge se recorda do beijo que recebeu e enrubesce, o que não passa despercebido pelo proprietário da loja – Ela tentou, não é?! O que ela fez para te deixar tão nervoso?
- Não importa! O que eu devo fazer para me afastar dela sem me prejudicar?
- Lelouch, eu sou casado. Eu não fujo da minha mulher; faço coisas com ela que você pode, mas não deveria imaginar. – os dois riem.
- De fato... Na verdade, eu quero que a C.C. continue interessada em me ter como o seu entregador, para manter meu emprego, mas não pretendo me envolver com ela.
- Olha meu amigo, o melhor que posso te dizer é que, talvez, seja melhor desistir. Não digo para pedir demissão, mas você pode trabalhar como entregador sem ser apenas para ela. Se os outros foram despedidos, ou se demitiram, acusados de assédio, alguma prova essa mulher devia ter. Do contrário, o próprio dono da pizzaria poderia se recusar a entregar para ela, e mesmo que C.C. tentasse prejudica-lo por isto, a confusão causaria repercussão negativa mais para si mesma do que para o adversário. E, por certo, ela não deve querer arriscar atrair a atenção pública após seu sobrenome ser manchado pelo pai.
- Em outras palavras, você acha que ela não estava mentindo nas acusações?
- Só estou dizendo que se não tem nada que incrimine você como um assediador, pode ser melhor sair desta emboscada agora antes que seja tarde. Seja verdade a versão dela ou uma porção de mentiras criadas por sensacionalismo, este caso não vai te render coisas boas. – o Kururugi pausa, esperando o ouvinte absorver o conselho, e este suspira de mãos juntas frente à boca, apoiando os joelhos nas pernas.
- Se eu fizer isso, ainda correria o risco de causar problemas a todos da pizzaria, já que aquela mulher alega não gostar de receber entregadores diferentes toda vez que liga para encomendar algo. A confusão pode ter trazido algum prejuízo para a imagem do estabelecimento, mas tenho certeza que aquele lugar está se mantendo de pé mais pelas altas quantias em dinheiro que C.C. envia sempre, acima dos valores das compras. Eu sei porque já recebi gorjetas bem gordas. – o rapaz informa com um sorriso enigmático, se recostando na cadeira e cruzando os braços e a perna esquerda sobre a direita.
- Ou seja, se você sair, pode não haver outro para ficar no seu lugar, e assim, ela vai parar de comprar naquela pizzaria e o proprietário talvez tenha que fechar as portas.
- Exato. Eles precisam dela. Se não, o chefe já teria dado um jeito de recusar seus pedidos, visto a quantidade de empregados que perdeu por sua causa... Na verdade, não me importo tanto com as pessoas que trabalham lá a ponto de me sacrificar por elas. O maior problema é que posso perder meu emprego de qualquer jeito, e aí não terei como me sustentar, quanto mais à Nunnally. Só tem um jeito de conseguir resolver a questão: preciso conquistá-la antes que ela faça alguma coisa.
- Está me dizendo que pretende seduzi-la? Ficou maluco? Aí sim você se arrisca a ser tachado de assediador, ou coisa pior! Se quer tomar conta da Nunnally, não pode ir pra cadeia! Desista logo do cargo de entregador pessoal dessa mulher e veja no que dá! – os dois se mantém quietos por um tempo novamente até Lelouch erguer um indicador.
- Você pode ter razão. Se começarem a comentar que temos um relacionamento, é melhor que não esteja ligado ao meu trabalho, do contrário, as coisas podem piorar. E com a mídia falando sobre algumas visitas descompromissadas da minha parte, C.C. vai ser obrigada a oficializar o caso para evitar fofocas. Se ela der início ao nosso aparente namoro, quando ele acabar, a culpa não será minha e eu estarei livre desta armadilha.
- Minha nossa!... – Suzaku ofega cansado – Espero que saiba o que está fazendo.
- Não se preocupe, eu vou sair desta. Mas uma coisa ainda está me incomodando.
- Só uma? Ah, tudo bem. Visto a sua situação... – o amigo ironiza – O que é?
- Shirley. É a empregada que cuida do gato e do jardim de C.C., e ela parece não apreciar muito a garota. Shirley gosta de falar comigo, então preciso tira-la do caminho.
- Olha o que você vai fazer para não se queimar! Isto não é um jogo de xadrez!
- Mas se fosse, ela até poderia ser o meu peão. – o jovem segura o queixo com um sorriso malicioso no rosto – Sim, é uma boa. Acha que devo dizer a ela que será usada?
- Se vai meter a pobre garota na história, é melhor avisar antes sim. – o Kururugi diz ao levantar, sendo acompanhado pelo motoboy, e depois de ele se despedir da irmã e de sua esposa, o segue até o estacionamento.
- Obrigado pela conversa, Suzaku. – o Lamperouge põe o capacete e liga a moto – Eu o manterei informado da situação.
- Certo, certo. Ah, só uma coisa, Lelouch! Lembre-se que, no jogo, o rei usa seu exército para derrubar a rainha. Tome cuidado com o que vai fazer. – o entregador não responde de imediato, desviando o olhar, e gira o cabo do acelerador.
- Cuidem da Nunnally para mim. – ele pede, fechando o visor.
- Cuidaremos, como sempre. – o proprietário afirma, e então o visitante se vai.
No dia seguinte, Lelouch age como o planejado e desiste de representar a pizzaria para levar as encomendas de C.C., contudo, informa ao seu chefe que ainda deseja ser o entregador pessoal dela. Dessa forma, o surpreso homem aceita a condição, sendo que poderá continuar recebendo o dinheiro da moça e ela as pizzas. Um tempo depois, assim que a cliente VIP faz uma nova solicitação, o rapaz é alertado e pega sua moto pessoal.
Indo até a mansão, ele toca a campainha na parede ao lado do portão e informa de sua chegada para Milly. Enquanto espera para entrar, nota a rica senhorita fitando-o por trás da cortina de seu quarto, no andar superior. Um sorriso brota em seus lábios. Logo, quem o recepciona após estacionar é Shirley, como o esperado.
- Lulu, como vai?! – ouvindo o seu apelido ser proferido por ela, o Lamperouge se dá conta de que realmente pode ter deixado um espaço aberto para a intimidade que fez C.C. ficar aborrecida da última vez, a ponto de beija-lo.
- Shirley, eu preciso da sua ajuda. – a empregada pisca confusa e fica meio tensa ao vê-lo se aproximar de si – Sabe, eu não quis dizer antes, mas eu estou interessado na sua patroa. Você me ajudaria a provocar uma cena de ciúme para ela ficar comigo?
Continua...
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