A Dona do Pedaço

Feeds RSS
Feeds RSS

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cap. 3

Obs: A parte em negrito quem está narrando é o Ryoma, o resto é a Sakuno.

Cap. 3


Quando beijei a Sakuno na própria casa dela achei que estaria ferrado, já que eu poderia ser o único ali que nutria algum tipo de sentimento com segundas intenções! Qual não foi a minha surpresa quando ela retribuiu o beijo e disse que queria que ficasse com ela. E aqui estou eu... Acabei passando mesmo a noite com ela!

(Claro que no melhor sentindo da coisa!) Sem restrições ou um tipo diferente de repulsa, dormimos um ao lado do outro. Se for por mim, pela primeira vez de muitas! É ótimo poder sentir o calor de outra pessoa enquanto estou dormindo, uma que não mie ou comece a ronronar quando troco de posição durante o sono.

Ela ainda está dormindo. Começo a pensar em como realmente posso ter mudado certas atitudes e algumas maneiras de pensar em uns assuntos graças a ela. Para uma pessoa que só se preocupava em trabalhar e seguia a vida por uma agenda entupida de data marcada e horário interminável, esquecer até de levantar cedo é um marco!

Sakuno se meche na cama e abre devagar os olhos. No momento estou acariciando seus cabelos e a observando, no que devo estar com um sorriso muito bobo na cara. Seu sorriso vai crescendo.

- Bom dia. – digo num suspiro de voz.
- Bom dia. – ela retribui no mesmo tom – Que horas são?
- Deve ser dez e pouco, mas não importa. Temos o dia livre.
- Mas Ryoma, os convidados chegarão por volta das seis horas! – desço a mão para seu ombro, sem desfazer o sorriso.
- Temos muito tempo. Eu quero ficar com você agora. – abraço-a.

Toda a preocupação dela parece desaparecer e só o que eu posso ouvir são as nossas respirações lentas no mesmo ritmo. Sakuno se agarra com preguiça em mim e acho que consegui ouvir um riso bem baixinho que ela deu. Vou acariciando o seu pescoço com a mão do braço que está apoiando a cabeça dela e com a outra sua cintura.

- Achei que tudo tivesse sido um sonho... – escuto-a murmurar e levanto seu rosto para ter certeza – Pensei que iria achar a cama tão vazia quanto nas outras vezes no seu lado.
- Mas eu falei sério, tudo o que eu disse ontem foi de verdade!
- Então você quer mesmo ficar do meu lado?
- Claro! – massageio sua bochecha – E até acho que não vou mais precisar passar tanto tempo assim com você pra ter certeza do que eu sinto. – sorrio maliciosamente. Ela me encara atenta – Eu te amo!
- Mesmo? – seu sorriso se alarga – Eu não quero ter que sofrer de novo Ryoma, e nem quero que você sofra.
- Nenhum de nós vai sofrer, porque eu sei o que estou dizendo.
- Eu me sinto tão feliz! – ela pula encima de mim. Acabo quase rolando pra fora da cama e começo a rir – Ah!
- O que foi? – levo um susto junto com ela.
- Eu me esqueci de encomendar a pinhata! – ergo a sobrancelha.
- Pinhata? Você brinca disso ainda? – ela bate de leve no meu braço enquanto continuo rindo.
- Não seja chato Ryoma. Vamos que eu tenho que pedir antes que a loja feche! – a pressa com a qual ela se levanta é a mesma com a qual eu seguro seu pulso e a puxo de volta pra cama, agarrando sua cintura assim que cai por cima de mim.
- Não podemos fazer isso depois? Eu quero ficar mais tempo do seu lado aqui, na cama. – o rosto dela fica vermelho e não consigo deixar de sorrir com isso.
- Não... Não dá. A loja fecha às cinco da tarde nos sábados.
- Por que tão cedo? – resmungo. Ela ri.
- Eu tenho que preparar nosso almoço também.
- Então pelo menos me deixa te ajudar.
- Pensei que não quisesse se sujar, senhor Ryoma!
- Eu posso tomar banho junto com você depois. – volto a deixá-la envergonhada com o comentário.
- E isso não é avançar o sinal? – faz uma careta, tentando em vão se soltar dos meus braços.
- Já dormimos juntos mesmo... Que mal faz?
- Mas não passamos a noite juntos do outro jeito!
- Se tivéssemos passado você iria tomar banho comigo?
- Como assim? – sem me conter, rio alto com a elevação da voz dela – Ryoma, eu nunca imaginei que você fosse tão pervertido!
- Então estamos nos conhecendo melhor.
- Tá bom, seu bobo. – sem prévio aviso, ela me dá um beijo doce e carinhoso, aprofundando aos poucos.

Circulo seu pescoço para aproximá-la mais de mim e apóio com gosto a outra mão atrás das suas costas, aproveitando o momento. Ela dá leves suspiros entre minhas carícias, mas quando suas mãos chegam até os meus ombros, deslizando pro peito, eu não fico nada diferente. Em alguns segundos acabo me empolgando e subo.

Chego sem demora alguma até a fina camada de tecido que é a blusa do pijama que ela está usando e entro por baixo dela, fazendo um vai e vem por suas costas e aí paro no sutiã. Quando estou quase desabotoando a peça, que sei que ela só está usando porque teve um homem dormindo do seu lado ontem, ela interrompe o beijo.

- Ryoma! – levanto e o repreendo. Ele suspira.
- Desculpe. Eu sou homem, não consegui me controlar!
- Então é melhor pararmos por aqui. – levanto de vez da cama (mas, ainda sim, tô feliz por ele tentar avançar o sinal!) – Eu vou preparar o almoço enquanto você toma banho e quando acabar é minha vez. – digo enquanto abro a porta – Assim que almoçarmos, nós saímos pra ir atrás da pinhata.
- Sim senhora. – escuto-o responder – Sakuno! – chama. Eu viro.

Sem que ele me dê tempo pra que reaja, tasca um beijo de me fazer perder o fôlego. Pela terceira, ou quarta vez (eu nem sei mais!) na manhã, ele quase me mata com a falta de espaço pra respirar! O único momento na minha vida que fui beijada com um famoso desentupidor-de-pia e nem consigo retribuir!

- Você ainda está com gosto de café. – ele lambe os beiços.
- Ah, Ryoma! – mais coro do que reclamo – Vai logo tomar banho!
- Certo! – ri e joga outro beijo na minha bochecha antes de se trancar.

Entre um riso e outro vou fazer o almoço. Como o combinado, nós dois nos aprontamos e comemos para ficarmos prontos só depois de uma da tarde. Levamos pelo menos mais duas horas de carro (no dele claro, porque eu não sei dirigir!) procurando o novo endereço do dono da loja, que muda e não diz pra onde vai pros compradores que são seus clientes há séculos (tipo eu)!

Logo que achamos a pinhata perfeita, que tem o formato de uma bola de tênis, nós voltamos e a botamos no teto da sala, onde não vai poder quebrar nada na hora em que rachar ao meio. Em seguida Ryoma e eu vamos direto pra outro banho (claramente um de cada vez) e ficamos em uma sessão de preguiça no sofá da sala esperando os convidados, assistindo qualquer coisa.

Em pouco tempo eles chegam: meus pais e minha avó, só os familiares e amigos mais chegados do Eiji e da Haruki junto deles e a família do Ryoma. Fiz questão de trazer todos no mesmo instante em que virou meu amigo! Toda a comemoração leva ao menos umas quatro horas da chegada ao bolo e quando todos vão embora juntos, Ryoma, Eiji, Haruki e eu vamos para um quarto.

Sentamos no chão e Haruki mostra a raquete nova que comprei antes de colocar em pé no chão e sentar. Eiji e Ryoma não fazem idéia do que estamos pretendendo até sentarmos em círculo com ela no chão.

- Vamos jogar "Dez Minutos no Paraíso"! – comemoro a oportunidade de conseguirmos fazer isto este ano.
- Ah, esse jogo é tão antigo quanto aquela pinhata!
- Vamos lá Ryoma, é divertido! – Haruki incentiva – Eu solto a raquete e escolhemos um lado pra ver quem começa. Só joga uma vez cada participante, traduzindo, jogamos duas vezes. Depois giraremos a raquete e a pessoa pra quem o cabo apontar vai entrar com a que girou dentro do closet.
- Seria mais rápido se fôssemos à deriva mesmo!
- Cala a boca Eiji! – ele desfaz o sorriso com um visível medo e Ryoma e eu rimos – Então, quem vai comigo?
- Eu vou! – Eiji se candidata, levantando a mão.

Depois de resolvido que os garotos começam, Ryoma gira a raquete. Nem é preciso dizer que o cabo pára em mim, e já aparentemente prevendo a cena, Eiji e Haruki se entreolham rapidinho e começam a rir baixinho quando nós dois entramos no closet. Para evitar que os dois tentem olhar pela janelinha na parte de cima da porta, Ryoma coloca um cabide na frente e seu casaco.

- Vamos ter que ficar aqui por dez minutos. – digo entre risos assim que ele termina de arrumar o casaco no cabide.
- E isso é ruim, por acaso? – sorri, e um sorriso bem malicioso por sinal.

Ele me agarra pela cintura e começamos a nos beijar com uma loucura imensa, aproveitando pra tocar bastante um no outro. Após uns oito minutos assim, usamos o resto do tempo pra planejar como fazer o Eiji e a Haruki irem pro closet também. Logo que saímos, eles nos encaram com sorrisos de ponta a ponta das orelhas, mas continuamos na mesma postura séria de antes.

- Então tá... Ah, olha só! – Haruki começa, olhando pela janela – Já é bem tarde, acho melhor irmos embora.
- Não mesmo! – seguro a raquete e empurro pro Eiji – Vamos continuar!
- Mas... – ele também tenta argumentar, mas o Ryoma entrega a raquete.
- Vamos lá Eiji, você que insistiu pra gente jogar esse jogo!
- Não acham melhor a gente terminar outro dia?
- Não senhora dona Haruki. – sorrio – Pode jogar.

Eiji já girou a raquete umas três vezes e só elegeu Ryoma e ele mesmo. Na hora em que ele vai girar uma milionésima vez, Ryoma e eu nos olhamos e resolvemos botar o plano em ação. Ele bate de leve na raquete sem que mais ninguém veja pra fazê-la perder a força e ela pára logo de primeira na Haruki.

- Finalmente essa raquete parou! – finjo cansaço entre as risadas. Haruki olha pra mim com uma cara de "E isso é bom?" – Vamos lá, vocês dois vão!
- Ham, eu tenho a impressão que o Eiji não deve ter girado direito, e...
- Não tente desconversar Haruki! – empurro-a e o Ryoma o Eiji.
- Ei, espera um pouco aí Ryoma! – ele reclama.

Jogamos os dois ao mesmo tempo dentro do closet e fechamos sem dó nem piedade. Pra nossa alegria, eles estão aflitos com o fato de estarem sozinhos lá dentro e se esquecem de pensar em uma idéia parecida com a do Ryoma, nos deixando uma visão perfeita do que está acontecendo pela janelinha. Dá para ouvir o que estão conversando também, então nos encostamos bem perto.

- O que você quer ficar fazendo enquanto passa o tempo?
- Eu não sei... – (pra uma garota super cobiçada no colégio, a Haruki tá nervosa demais só com um homem!) – Podíamos fingir alguma coisa.
- Mas por que temos que fingir exatamente? – ela se surpreende com a pergunta dele – Quando você disse aquilo... Não queria entrar comigo?
- Não é isso! É que... Apesar de eu gostar deste jogo, eu pretendia fazer só com que o Ryoma e a Sakuno entrassem, então eu... – antes que ela termine, o Eiji acaba dando um selinho nela.

Ryoma e eu comemoramos do lado de fora. No dia seguinte, em uma bela manhã de domingo, ligo pro Ryoma e marcamos de nos ver no shopping. Ao nos encontrarmos na frente de uma sorveteria, caminhamos e conversamos no caminho do cinema, mas é quando vemos a Haruki e um urso gigante branco vindo na nossa direção. Só depois notamos que o urso na verdade é o Eiji.

- O que estão fazendo aqui? – rio da tentativa do Eiji de carregar o bicho.
- Viemos comprar o seu presente. – ela sorri – Acabamos nos tocando quando nós voltamos para casa que esquecemos seu presente de aniversário, então eu vim sozinha, mas achei o Eiji na mesma loja de artigos esportivos e viemos procurar alguma coisa no shopping. Resolvemos comprar este ursão!
- E Ryoma, se não se importa, pode me ajudar a carregar ele que eu não tô agüentando mais! – sem demora, ele agarra a outra ponta do urso – Valeu pequenino! – suspira – Então, é verdade que vocês já estão namorando?
- É sim. – Ryoma se adianta e fala na frente. Ruborizo e confirmo.
- Que bom! – Haruki comemora, quase dando pulinhos.
- Eu sabia que isso ia acontecer, nem precisou tanto esforço!
- Idem pra vocês dois. – Ryoma fala e rimos do constrangimento deles.
- Já que estamos dois a dois... – Eiji continua – Vamos tomar um sorvete. – todos concordam e voltamos pra sorveteria de antes, mas no caminho o Ryoma me pára e deixamos os outros dois passarem na frente.
- O que foi Ryoma? – sorrio. Ele retira um pacotinho verde com uma fita amarela da pequena mochila que trouxe e me entrega um cartão.
- Feliz aniversário atrasado Sakuno. – sorri.

No papel de presente ainda é possível ver algumas marcas de arranhões de garras. Sem dizer mais nada, abro o embrulho e retiro da caixinha um colar de ouro com um pingente de uma raquetizinha de tênis. Alargo o sorriso e levanto alto a corrente, admirando a delicadeza.

- Eu amei Ryoma! É um ótimo presente, muito bonito!
- Não tanto quanto você. – ele toma a corrente das minhas mãos e afasta meu cabelo, prendendo no meu pescoço – Ficou melhor do que eu esperava...
- Onde foi que você achou um pingente de raquete?
- Não se surpreenda com os tipos de enfeites que os vendedores fazem!
- Mas deve ter sido muito caro. – olho uma última vez pro pingente antes de encará-lo – Podia ter comprado só banhado.
- Imaginei que fosse dizer isto, mas não precisa se preocupar. O dono da loja é amigo do meu pai e me vendeu pela metade do preço.
- Que safado... – finjo me zangar e cruzo os braços – Por que não me deu ontem, enquanto estávamos assistindo tevê?
- Só tive tempo de embrulhar pra você ontem de noite. – dá de ombros – O Karupin não ajudou muito, rasgou o papel e eu fiquei sem nada onde desse para colocar seu presente! – descruzo os braços e rio.
- Tudo bem. Não tem problema! – abraço-o – Eu sei que você me deu com carinho, e pra mim isso é que basta!
- Ei, vocês dois! – Haruki chama lá da frente – Andem!
- Vamos gente; Ryoma, eu não posso carregar isso sozinho!
- Já estamos indo! – grito de volta, rindo.
- Se a fila aumentar a culpa é de vocês! – Haruki dá uma última bronca antes de segurar o meu bichinho de pelúcia pelo outro lado.
- Mas que coisa, nem tem tanta gente no shopping assim! – Ryoma ri.

Ele me dá um rápido beijo e corremos na direção dos outros dois de mãos dadas. Eles também dão as mãos e sorrimos. Uma vez, lembro de ter ouvido minha mãe perguntar o tipo de presente que eu gostaria de ganhar, se pudesse escolher qualquer coisa. E eu respondi: "Não importa se for caro ou barato, nem único ou igual a todos os outros, desde que seja dado por quem eu ame!"

Fim

0 comentários:

Postar um comentário