
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Fábulas de Mache - Parte 2

Um garoto sempre foi o orgulho de sua família: notas boas, grande atleta, presidente da turma. Um dia, voltando o caminho para casa, pára em frente a uma casa dita ser assombrada e resolve entrar. Ele percorre todos os aposentos até encontrar um quarto no porão, então desce as escadas e abre a porta.
Olhando em volta só encontra um quadro antigo de uma colina, uma mesa com uma cadeira, ambas de madeira como a porta, e um espelho quadrado, perto de uma pequena janelinha. Ele se aproxima e fica encarando seu reflexo por um tempo. Quando o sol bate no espelho, o rapaz vê uma garota no lugar da imagem.
Mesmo se assustando, fica tão atraído pela beleza dela que não consegue seguir seu primeiro impulso, o de correr, e por causa disto vê a jovem mostrar seu reflexo de outra maneira. Perto dos conhecidos e da família, o garoto está com um olhar perdido e abatido, fazendo suas costumeiras atividades de uma maneira desanimada e ruim. Assim que a imagem some, ele se adianta e diz:
M (menino) – Você não precisava me mostrar isto, porque eu já sei que estou usando uma máscara.
Me (menina) – Está vivendo de acordo com a visão dos outros, porque não acredita em si mesmo.
M – Sente pena de mim?
Me – Não sente pena de si mesmo?
Ele se cala por alguns segundos, surpreso com suas palavras. Ela sorri:
Me – Sente-se ali, por favor.
O jovem obedece e senta na cadeira:
Me – Faz tempo que ninguém vem aqui para conversar comigo.
M – Já vieram outros antes?
Me – Sim, minha família, mas todos morreram.
M – Como você foi parar no espelho? Está morta também?
Me – Não. Trancaram-me aqui porque acharam que eu era inútil.
M – Então você fica aqui amostrando as pessoas que vêm como elas são?
Me – Não tive tempo de fazer isso antes que corressem.
Ambos riem um pouco antes que ela se entristeça novamente:
Me – Confesso que sinto falta do mundo de fora.
M – E não pode sair daí sozinha?
Me – Mesmo que quisesse não poderia, porque devo descobrir minha meta na vida, o objetivo pelo qual nasci.
M – Eu ainda não sei o meu, mas quero descobrir.
Me – Você tem talento e dedicação, procure por quem você é e achará!
M – Obrigado. Posso vir aqui visitá-la mais vezes?
Me – Estarei te esperando de braços abertos.
Com aquela frase, ele não a esqueceu mais e passa vários dias indo até a casa só para sentar, algumas vezes, no chão e conversarem horas juntos. Com o tempo, tudo em que o rapaz se dava bem começa a praticar cada vez pior e sempre que alguém o questiona ele ignora. Um dia se cansa e a procura:
M – Não suporto mais os ouvir me criticando!
Me – É porque alimentou muito os sonhos que tinham para você.
M – Ajude-me. O que devo fazer?
Me – O que você mais quer na vida?
M – Quero ser eu mesmo... Quero ficar com você!
Me – Toque o espelho e me puxe para fora.
Assim ele faz. Toca o espelho com uma das mãos e quando começa a brilhar sua mão atravessa o objeto. O garoto a tira com um abraço e a vê chorar:
Me – Ninguém acreditou tanto em mim antes para me tirar do mundo que me fizeram para viver.
M – Talvez faltasse você acreditar também em si mesma.
Ela ri, concordando com a cabeça, limpa as lágrimas com as costas das mãos e as coloca para trás, beijando-o de surpresa.
Moral: Aquele que não crê em si mesmo procura nas mãos de outros por seus próprios fins. Você deve sempre achar seu objetivo por sua conta.
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